Domingo da Ressurreição


Na 1ª leitura, os discípulos se tornam testemunhas de Cristo, que andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos.

Na 2ª leitura, unidos a Ele, por meio do batismo, ressuscitamos para uma vida nova. A busca das coisas do alto, da vida plena em Deus começa desde já através do amor ao próximo.

No Evangelho, João começa o texto com Maria de Madalena, do grupo das discípulas fiéis, indo ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. Pedro e o discípulo amado correm ao túmulo, pois não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. A morte será entendida mediante a experiência de fé no Ressuscitado. O discípulo amado, presente na ceia e ao pé da cruz, expressa seu amor exemplar, chegando primeiro ao sepulcro. Ele viu o túmulo vazio e acreditou. No texto de Lucas, Jesus se aproximou e começou a caminhar com os discípulos. Eles estavam decepcionados com a morte de Cristo na cruz, pois aguardavam um Messias poderoso. A presença do Ressuscitado faz arder o coração com sua palavra. Jesus, que havia partilhado o alimento, especialmente com as pessoas excluídas, compartilha novamente agora com os discípulos, graças à sua hospitalidade. O acolhimento, a escuta da Palavra e o partir juntos o pão abre os olhos para compreender que Jesus é o verdadeiro Messias, o Servo rejeitado e exaltado.

Revista de Liturgia

Vigília Pascal


As leituras ressaltam o amor incondicional de Deus, revelado ao longo da história da salvação. O relato da criação mostra Deus como a luz da vida, que transforma as trevas, o caos em cosmos. Abraão, o pai da fé, confia na promessa divina. O êxodo evoca a ação de Deus, que conduz no caminho da libertação. Os profetas ensinam a retomar o caminho da aliança, deixando-se envolver pela força da Palavra. Pelo batismo, o cristão faz a experiência da vida nova em Cristo, morto e ressuscitado. Mergulha no mistério da páscoa de Cristo para viver sua filiação divina.

No evangelho, as discípulas fiéis, representadas por Maria de Madalena, foram ao túmulo de Jesus, na madrugada do primeiro dia da semana. Tomadas de medo diante da ausência do corpo do Senhor no sepulcro, elas são consoladas pela mensagem de vida e de esperança. A experiência pascal suscita a fé e faz compreender as palavras que Jesus havia proferido: É necessário o Filho do Homem ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e, ao terceiro dia, ressuscitar. As mulheres se tornam anunciadoras da Boa Nova do Ressuscitado aos discípulos.

Revista de Liturgia

Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor


Na 1ª leitura, o quarto cântico do Servo é situado no exílio, onde o sofrimento era associado às infidelidades . O servo carrega as dores e os pecados da multidão; terá êxito na missão e será exaltado através da vida doada. Ele se torna figura de Cristo, na perspectiva cristã.

A 2ª leitura acentua o valor salvífico da morte de Jesus, o Filho de Deus, o sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas.

No Evangelho, João narra a paixão e a morte de Cristo à luz da fé pascal, como glorificação de sua obra salvífica. Sua morte é consequência do compromisso com a vida e a verdade: Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. A negação de Pedro enfatiza a dificuldade dos discípulos de testemunhar a fé, num contexto de opressão, violência e perseguição. Pilatos entrega Jesus para ser crucificado, sendo incapaz de acolher sua verdade como Filho de Deus. Ciente da missão concluída, Ele entrega o espírito: Tudo está consumado. Assim, Cristo doa a vida por própria vontade. Do lado aberto jorra sangue, derramado para a salvação e água, sinal do Espírito doado por Jesus glorificado. José de Arimatéia e Nicodemos se preocupam com o corpo de Jesus, providenciando os aromas para a unção, além de envolvê-lo em faixas de linho, para a sepultura, segundo o costume judaico.

Revista de Liturgia

Missa da Ceia do Senhor


A 1ª leitura acentua que a páscoa judaica é o memorial da ação de graças pela libertação da escravidão do Egito. Como no êxodo, a passagem do Senhor exige uma atitude de prontidão: rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão.

Na 2ª leitura, a Ceia do Senhor está centrada na ação salvífica de Cristo, que toma o pão e o cálice e os distribui, como sinais do seu corpo entregue por amor e da Nova Aliança em seu sangue. Fazei isto em memória de mim é a ordem imperativa do Senhor, que nos compromete a celebrar a eucaristia e a multiplicar gestos de amor oblativo.

O evangelho pertence aos discursos de despedida. Jesus, consciente que chegou a hora de sua Páscoa, ama os seus até o fim, doando a vida pela salvação. Permanece fiel ao plano de amor do Pai, que colocou tudo em suas mãos. Assim, a sua ação como Servo, no lava-pés, prefigura o sentido da cruz e revela o amor divino incondicional. O gesto de lavar os pés era um sinal de hospitalidade  e podia ser realizado pelos escravos. Os discípulos, representados por Pedro, ainda não compreendem o caminho do Messias, a serviço da vida e da libertação. As palavras e ações de Cristo convidam a deixar-se lavar, mergulhar na graça, para participar da comunhão com Deus, realizada através de sua entrega total. A ação simbólica do lava-pés está ligada ao novo mandamento do amor fraterno, que identifica quem segue Jesus, no caminho da doação no amor.

Revista de Liturgia

Família, escola do perdão e da vida


Sabe qual é a maior família que existe? É a que nós possuímos, por mais frágil e complicada que ela seja.

Sabe qual é o pior inimigo do real? Pensou? O pior inimigo do real – da família real, daquela que temos – é o ideal. É aquela “ideia” que carregamos acerca de um modelo, cuja realidade toda é “obrigada” a se adequar, mas que – definitivamente – não corresponde à nossa realidade.

Nem sempre o real corresponderá aos nossos ideais, e quase perenemente precisaremos, com leveza e maturidade, nos reconciliar com o real para podermos, a partir dele, construir uma encarnada felicidade. A felicidade só será possível a partir da verdade e da realidade que, verdadeiramente, nos compõem.

Como dizia o poeta: “Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita (Gonzaguinha). E por mais que a vida nos apresente problemas e deformidades, ela sempre será um palco de belezas no qual precisaremos protagonizar nossa história.

Nossos familiares são mesmo, inúmeras vezes, imperfeitos e muito difíceis de conviver. Todavia, é no solo dessa verdade (de nossa verdade) que precisamos nos assumir e, com bravura e heroísmo, nos lançar na construção da felicidade e de suas específicas exigências.

Precisamos amar e valorizar a família que temos: o pai, a mãe, os irmãos que Deus nos deu, independentemente de como são. Sem dúvida, isso não é fácil e se revela como realidade muito desafiadora. Entretanto, ninguém poderá construir uma vida verdadeiramente feliz sem ter a consciência tranquila pelo fato de ter lutado pelos seus e de não os ter abandonado em virtude de suas fraquezas.

Percebo como muito sábio e real o ditado que diz: “Quer conhecer alguém? É só observar como ele trata seus pais”, pois uma consciente e constante atitude de desamor com relação aos próprios pais revela uma séria e profunda deficiência no caráter e na forma de se relacionar.

Nossos familiares (os pais e os demais) manifestam nossas raízes e nossa identidade, e negá-los seria negarmos a nós mesmos.

Nossa família sempre oferecerá possibilidades, seja por meio de alegrias ou de dores, para nos tornarmos pessoas melhores. Nela, poderemos viver a relação e a abertura aos demais (não sem conflitos, é claro), assim compreendendo que não somos o centro “absoluto” do mundo.

Na família aprendemos – por bem ou por mal - a repartir o que temos e o que somos, com a possibilidade de, constantemente, frequentar a escola do perdão. Assim aprenderemos a oferecer, aos outros e a nós mesmos, uma nova chance diante de cada circunstância ou erro cometido.

Pela família aprendemos a compreender a imensa fragilidade humana que envolve a todos, percebendo-nos também como seres fracos e constantemente necessitados de ajuda e atenção.

Enfim, a família é uma escola de vida e de construção da felicidade; nela, o ser tem espaço para, de fato, “ser” e acontecer.

Padre Adriano Zandoná
Trecho extraído do livro "Construindo a felicidade

Domingos de Ramos e da Paixão


Na 1ª leitura, o Servo do Senhor, com a língua e os ouvidos de discípulo, fortalece a fé e a esperança do povo exilado na Babilônia. Ele sofre injustamente por causa de sua fidelidade, sendo sustentado diante dos opressores: O Senhor Deus é o meu aliado, por isso jamais ficarei derrotado.

O hino cristológico, na 2ª leitura, mostra que o Filho de Deus se tornou Servo, obediente à vontade do Pai até a morte na cruz. Por isso, ele foi exaltado e proclamado Senhor de todos.

No Evangelho, a entrada messiânica, montado sobre um jumentinho, evoca a expectativa do povo e as cerimônias de investidura de um novo rei. Jesus revela um messianismo a serviço da vida, não triunfalista. Ele é o Messias, enviado por Deus para trazer o dom da paz como plenitude de salvação. O relato da Paixão começa em torno da mesa da ceia pascal, sinalizando que Jesus é exemplo de serviço e doação total: Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Os discípulos dormem, pois precisarão da força da ressurreição do Senhor para compreender e seguir o caminho da cruz. A palavra do Mestre anima a levantar-se e orar continuamente, para evitar a tentação e enfrentar os desafios da missão. Jesus é modelo de homem justo, rejeitado e condenado por oferecer a compaixão e a misericórdia divina até o fim. A morte na cruz expressa sua entrega plena por amor: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Torna-se sinal de salvação que leva à conversão.

Revista de Liturgia

A Semana Santa deve ser um tempo de reflexão e reconstrução


Num clima de alegria e esperança, provocado pela ascensão ao pontificado petrino do Papa Francisco, iniciaremos - no Domingo de Ramos - mais uma Semana Santa com a entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém.

Aí começa uma nova fase na história do povo de Israel, quando todos se voltam para a cena da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

A Semana Santa deve ser um tempo de recolhimento, de interiorização e de abertura do coração e da mente para o Deus da vida. Significa fazer uma parada para reflexão e reconstrução da espiritualidade, essencial para o equilíbrio emocional e segurança no caminho natural da história de vida com mais objetividade e firmeza.

As dificuldades encontradas não são fracasso nem caminho sem saída. Elas nos levam a firmar a esperança na luta por uma vida sem obstáculos intransponíveis. Foi o que aconteceu com Cristo, no trajeto da Paixão, culminando com Sua morte na cruz. Em todo esse caminho, Ele passou por diversos atos de humilhação.

A estrada da cruz foi uma perfeita reveladora da identidade de Jesus. Ele teve de enfrentar os atos de infidelidade e rebeldia do povo que estava sendo infiel ao projeto de Deus, inclusive sendo crucificado entre malfeitores. Jesus partilha da mesma sorte e dos mesmos sofrimentos dos assassinos e ladrões de sua época.

Na Semana Santa devemos associar ao sofrimento de Cristo o mesmo que acontece com tantas famílias e pessoas violentadas em nosso tempo. Podemos dizer da violência armada, dos trágicos acidentes de trânsito, das doenças que causam morte, do surto da dengue, dos vícios que ceifam muita gente, etc.

Jesus foi açoitado, esbofeteado, teve a barba arrancada, foi insultado e cuspido. O detalhe principal é que nenhum sofrimento O fez desistir de Sua missão nem ter atitude de vingança. Ele deixou claro que o perdão é mais forte do que a vingança.

Devemos aprender com Ele e olhar a vida de forma positiva, sabendo que seu destino é projetado para a eternidade em Deus.

Dom Paulo M. Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG) 

19 de Março - Dia de São José


José em hebraico significa “Deus cumula de bens”, esse nome revela exatamente quem é São José, pai adotivo de Jesus, o homem que mais recebeu bens divinos.

Ele é esposo de Maria Santíssima e pai de Jesus, os maiores tesouros de Deus na terra, Jesus, seu filho dileto e Maria, foram confiados a São José.

Deus não iria aferir tão importante missão a São José, se não fosse pelas suas extraordinárias virtudes e santidade.

No evangelho ele foi descrito como homem justo, pois viveu, pensou e agiu em conformidade com o desígnio de Deus a todo instante.

Ele recebeu o título de “santíssimo” pela igreja, qualificativo que não dá a nenhum santo.

São José exerceu sua missão com muito amor, homem nenhum no mundo deu mais amor, carinho e cuidado a Jesus que ele.

Recebeu a graça de ser o primeiro homem a carregar o menino Jesus no colo quando nasceu.

Ele protegeu Jesus da fúria de Herodes, conseqüentemente ele cuidou de Jesus e de Maria, para toda a humanidade, fez sempre o que pode para deixá-los seguros, cumprindo fielmente seu papel de pai e marido.

Tomando o exemplo de São José devemos refletir como cada pai está cuidado de seus filhos e esposa. Será que seguindo o exemplo de São José ou o exemplo de pais infiéis, que não se preocupam com a vida da sua família e mais vivem em egoísmo e desamor que amor?

Se isso está acontecendo é preciso retomar o caminho da vida, do perdão e do amor sincero, como Deus quer para todos nós, antes que seja tarde demais.

São José sustentou dignamente sua família com o trabalho de carpinteiro em Nazaré, será que os pais cristãos estão exercendo um trabalho honesto e digno para conseguir o sustento familiar?

Ele não foi egoísta, pensou sempre no melhor para sua família e cumpria prontamente os pedidos de Deus. Na vida familiar, cada pessoa deve pensar se busca sempre o melhor para toda a família ou se age somente conforme seus gostos e desejos.

Buscamos ser fiéis em cumprir a vontade de Deus ou nos endeusamos, nos colocando no centro de tudo e Deus em segundo plano?

São José foi o maior exemplo de homem santo e pai de família que existiu.
Todas as pessoas deveriam recorrer sempre a ele e na veneração a tão grande santo, procurar imitá-lo em sua justiça, bondade, atenção e amor a Jesus e a Maria.

Todo cristão deve refletir se a exemplo de São José, está exercendo bem a missão dada por Deus ou se contrariamente esta permitindo o tempo passar e com ele, as oportunidades de fazer o melhor a Deus, para servi-lo.

São José recebeu Jesus desde o início com zelo, cuidado, respeito e amor. É muito importante também pensar, como recebemos atualmente Jesus, principalmente na eucaristia, será que com o mesmo zelo, cuidado, respeito e amor? Ou estamos o abandonando, não fazendo caso de sua presença tão real, viva e divina todos os dias nas igrejas?

A convivência com Jesus e Maria deve ter sido extremamente especial a São José, afinal ele passou tantos anos na companhia de Jesus, observando seus divinos exemplos e na de Maria, observando a prontidão dela em servir e amar com tanto amor ao próprio Deus também na figura de seu filho Jesus.

Certamente nenhum outro homem conheceu e amou tanto Jesus e Maria quanto São José.

Também nós devemos procurar conviver o máximo possível com Jesus e Maria em nossas vidas, que eles estejam tão presentes em nossas almas, quanto a nós mesmos, para isso devemos pedir essa graça a São José, que nos ensine como amá-los mais a cada momento como ele fez.

São Cura d’Ars, o patrono dos párocos, dizia: “Oh Jesus, dai-me a ardente caridade de São José, e nada mais restaria desejar sobre a terra”.

Para São José se atribuí um poder de intercessão sem limites, tanto que Santa Teresa que foi uma grande devota dele, afirmou: “Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e encomendei-me muito a ele... Não me lembro, até o presente, ter-lhe pedido coisa que tenha deixado de fazer. Causa espanto as grandes mercês que Deus me fez por meio desse bem-aventurado Santo, dos perigos que me livrou, assim do corpo como da alma. A outros Santos parece que o Senhor lhes deu graça para socorrer em determinada necessidade. Deste glorioso Santo tenho experiência que socorre em todas... Só peço, por amor de Deus, que o prove quem não me acreditar e verá por experiência o grande bem que é encomendar-se a este glorioso Patriarca e ter-lhe devoção”.

Na ultima aparição de Nossa Senhora em Fátima, os videntes contemplaram um espetáculo muito belo. Quando Nossa Senhora desapareceu, surgiu como um quadro a Sagrada Família. À direita estava Nossa Senhora, vestida de branco com um manto cerúleo e o rosto mais resplandecente que o sol; à esquerda, São José com o Menino Jesus, no ato de abençoar o mundo. Eis o lugar de São José no céu, entre Jesus e Maria.

Assim sendo, quem a tão amado e grande santo se confia, caminha inspirado por ele, de virtude em virtude, de graça em graça, até atingir um elevado grau de santidade e estar como ele para sempre ao lado de Jesus e Maria por todos os séculos sem fim.

Juliana Gonçalves
Retirado do Site Igreja Hoje

5º Domingo da Quaresma

Na 1ª Leitura, o profeta, durante o exílio da Babilônia, consola o povo sofrido com a esperança de uma nova libertação. Deus, que realizou maravilhas no êxodo, abrirá um caminho novo no deserto, para conduzir o povo de volta à terra prometida.

Na 2ª Leitura, a conformidade a Cristo exige conhecimento profundo, para experimentar a força da sua ressurreição e permanecer firme na caminhada em busca da meta.

No Evangelho, Jesus, depois de passar a noite em oração no monte das Oliveiras, volta ao Templo de Jerusalém. Sentado, na posição de Mestre, ensina ao povo reunido em volta dele. Os escribas e os fariseus apresentam o caso da mulher surpreendida em adultério. Segundo o Velho Testamento, a mulher e o homem que praticavam o adultério eram apedrejados até a morte. Mas, o Deus da vida não tem prazer com a morte do pecador, pois deseja que mude de conduta e viva. Homens e mulheres são chamados à conversão, para acolher o amor misericordioso do Pai, revelado em Jesus. A palavra do Mestre de Nazaré convida os acusadores a rever as próprias atitudes: Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra. Sendo enviado pelo Pai não para condenar, mas para salvar, Jesus começa um novo diálogo com a mulher, que continuava no meio, em pé. Ele oferece o perdão e as condições para seguir uma vida nova e plena: Vai, e de agora em diante não peques mais.

Revista de Liturgia

Discurso do Papa Francisco aos cardeais


Irmãos Cardeais,

Este período dedicado ao Conclave foi repleto de significado não somente para o Colégio Cardinalício, mas também para todos os fiéis. Nestes dias sentíamos quase sensivelmente a atenção de tantas pessoas que, embora não partilhando da nossa fé, olham com respeito e admiração a Igreja e a Santa Sé. De cada ângulo da terra levantou-se fervorosas e unidas orações do Povo cristão para o novo Papa, e repleto de emoção foi o meu primeiro encontro com a multidão presente na Praça São Pedro. Com aquela sugestiva imagem do povo orando e alegre ainda impressa na minha mente, desejo manifestar o meu sincero reconhecimento aos Bispos, aos sacerdotes, às pessoas consagradas, aos jovens, às famílias, aos anciãos pela sua proximidade espiritual, tão tocante e fervorosa.

Sinto a necessidade de exprimir a minha mais viva e profunda gratidão a todos vocês, venerados e queridos Irmãos Cardeais, pela solícita colaboração à condução da Igreja durante a Sé Vacante. Dirijo a cada um uma cordial saudação, a começar pelo Decano do Colégio cardinalício, o Senhor Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço pelas manifestações de devoção e pelas fervorosas saudações que me dirigiu em nome de vocês. Com ele agradeço ao Senhor Cardeal Tarcísio Bertone, Camerlengo da Santa Romana Igreja, pelo seu cuidado trabalho nesta delicada fase de transição e também ao caríssimo Cardeal Giovanni Battista Re, que foi o nosso chefe no Conclave: muito obrigado! O meu pensamento também vai com particular afeto aos venerados Cardeais que, por causa da idade ou de doença, asseguraram a sua participação e o seu amor à Igreja através do oferecimento do sofrimento e da oração. E gostaria de dizer que outro dia o Cardeal Mejía teve um infarto cardíaco: ele se recupera no hospital Pio XI. Mas acredita-se que a sua saúde esteja estável, e nos enviou as suas saudações.

Não pode faltar o meu agradecimento também a quantos, em diversas tarefas, trabalharam na preparação e no desenvolvimento do Conclave, favorecendo a segurança e a tranquilidade dos Cardeais neste período tão importante para a vida da Igreja.

Um pensamento cheio de grande afeto e de profunda gratidão dirijo ao meu venerado Predecessor Bento XVI, que nestes anos de Pontificado enriqueceu e fortaleceu a Igreja com o Seu magistério, a Sua bondade, a Sua condução, a Sua fé, a Sua humildade e a Sua suavidade. Permanecerão um patrimônio espiritual para todos! O ministério petrino, vivido com total dedicação, teve Nele um intérprete sábio e humilde, com o olhar sempre voltado para Cristo, Cristo ressuscitado, presente e vivo na Eucaristia. O acompanharão sempre a nossa fervorosa oração, a nossa incessante recordação, a nossa eterna gratidão e afeto. Sentimos que Bento XVI acendeu no fundo dos nossos corações uma chama: essa continuará a arder porque será alimentada por Sua oração, que apoiará ainda a Igreja no seu caminho espiritual e missionário.

Queridos Irmãos Cardeais, este nosso encontro quer ser um prolongamento da intensa comunhão eclesial experimentada neste período. Animados por um profundo senso de responsabilidade e de grande amor por Cristo e pela Igreja, rezamos juntos, compartilhando fraternalmente os nossos sentimentos, as nossas experiências e reflexões. Neste clima de grande cordialidade e de tanto crescimento do recíproco crescimento e a mútua abertura; e isto é bom, porque nós somos irmãos. Alguém me dizia: os Cardeais são os sacerdotes do Santo Padre. Aquela comunidade, aquela amizade, aquela proximidade nos fará bem. E este conhecimento e esta abertura mútua nos facilitaram a docilidade à ação do Espírito Santo. Ele, o Paráclito, é o supremo protagonista de cada iniciativa e manifestação de fé. É curioso: isso me faz pensar. O Paráclito faz todas as diferenças nas Igrejas, e parece que seja um apóstolo de Babel. Mas por outro lado, é Aquele que faz a unidade destas diferenças, não na “igualdade”, mas na harmonia. Eu recordo aquele Padre da Igreja que o definia assim: “Ipse harmonia est”. O Paráclito que dá a cada um de nós carismas diferentes, nos une nesta comunidade de Igreja, que adora o Pai, o Filho e Ele, o Espírito Santo.

Propriamente partindo do autêntico afeto colegial que une o Colégio Cardinalício, expresso a minha vontade de servir o Evangelho com renovado amor, ajudando a Igreja a tornar-se sempre mais em Cristo e com Cristo, a videira fecunda do Senhor. Estimulados também pela celebração do Ano da Fé, todos juntos, Pastores e fiéis, nos esforcemos em responder fielmente à missão de sempre: levar Jesus Cristo ao homem e conduzir o homem ao encontro com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, realmente presente na Igreja e contemporâneo em cada homem. Tal encontro leva a transformar homens novos no mistério da Graça, suscitando na alma aquela alegria cristã que constitui o cêntuplo doado por Cristo a quem O acolhe na própria existência.

Como nos recordou tantas vezes em seus ensinamentos e, por último, com este gesto corajoso e humilde, o Papa Bento XVI, é Cristo que guia a Igreja por meio do seu Espírito. O Espírito Santo é a alma da Igreja com a sua força vivificante e unificante: de muitos faz um corpo só, o Corpo místico de Cristo. Não cedamos nunca ao pessimismo, àquela amargura que o diabo nos oferece a cada dia; não cedamos ao pessimismo e ao desencorajamento: tenhamos a firme certeza de que o Espírito Santo doa à Igreja, com o seu sopro poderoso, a coragem de perseverar e também de procurar novos métodos de evangelização, para levar o Evangelho até os extremos confins da terra (cfr At 1,8). A verdade cristã é atraente e persuasiva porque responde à necessidade profunda da existência humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único Salvador de todo o homem e de todos os homens. Este anúncio é válido hoje como o foi no anúncio do cristianismo, quando se trabalhou a primeira grande expansão missionária do Evangelho.

Queridos Irmãos, força! A metade de nós está em idade avançada: a velhice é – parece-me dizer assim – a sede da sabedoria da vida. Os idosos têm a sabedoria de ter caminhado na vida, como o velho Simeão, a velha Ana no Templo. E propriamente aquela sabedoria fez-lhes reconhecer Jesus. Doemos esta sabedoria aos jovens: como o bom vinho, que com os anos torna-se melhor, doemos aos jovens a sabedoria da vida. Vem à minha mente aquilo que um poeta alemão dizia sobre a velhice: “Es ist ruhig, das Alter, und fromm”: é o tempo da tranquilidade e da oração. E também de dar aos jovens esta sabedoria. Vocês voltarão para suas respectivas sedes para continuar o vosso ministério, enriquecidos pela experiência destes dias, tão repletos de fé e de comunhão eclesial. Tal experiência única e incomparável nos permitiu acolher em profundidade toda a beleza da realidade eclesial, que é um reflexo do esplendor de Cristo Ressuscitado: um dia olharemos para aquela face belíssima do Cristo Ressuscitado!

À potente intercessão de Maria, nossa Mãe, Mãe da Igreja, confio o meu ministério e o vosso ministério. Sob o seu olhar materno, cada um de nós possa caminhar feliz e dócil à voz do seu Filho divino, reforçando a unidade, perseverando concordemente na oração e testemunhando a genuína fé na presença contínua do Senhor. Com estes sentimentos – são verdadeiros! – com estes sentimentos, concedo-vos de coração a Benção Apostólica, que estendo aos vossos colaboradores e às pessoas confiadas á vossa cúria pastoral.

Papa Francisco

A pior tristeza é a falta do amor que vem de Deus


Assim como hoje, existiam – no tempo de Jesus – pessoas que ouviram seus ensinamentos, presenciaram seus milagres, mas, mesmo assim, tinham dúvidas. E eram judeus, como Jesus! Hoje, eles não acreditam que Jesus é, de fato, o Filho de Deus. E continuam esperando a primeira vinda do Messias Salvador, anunciado pelos profetas do Antigo Testamento. Também existem muitos não-judeus, que não acreditam que Jesus é o Filho de Deus, e nem acreditam em seu poder. Se você é uma destas pessoas, no Evangelho de hoje Jesus fala diretamente a você!

Jesus cita dois profetas famosos e conhecidos de todos, na época: João Batista e Moisés. Os dois vieram para anunciar a vinda do Messias Salvador. Pois bem, Jesus se apresenta como esse Messias! Quem não acreditar nesses dois profetas, também não acreditará em Jesus. Eles dão testemunho de Jesus. Mas o maior testemunho de Jesus é o próprio Pai, que lhe enviou. Mas quem de vocês já ouviu a voz de Deus? Deus não fala da forma que conhecemos. Deus fala através dos milagres que Jesus realizou e realiza ainda hoje, para quem lhe pede.

Mas no Evangelho de hoje, Jesus não se dirige aos desentendidos. Ele se dirige àqueles que estudam a Bíblia, mas que mesmo assim não acreditam que Ele é o Filho de Deus! E afirma categoricamente: “Mas eu sei que não tendes em vós o amor de Deus”. Ou seja, quem não consegue enxergar os milagres realizados por Jesus como sendo obras de Deus, Seu Pai, é porque tem o coração endurecido. E num coração endurecido não existe o amor. E se Deus é amor, então essa pessoa não tem o amor de Deus. Essa é a pior tristeza que um ser humano pode ter na vida: a falta do amor que vem de Deus.

Há uma “sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que, desde antes dos séculos, Deus antecipadamente nos destinou”. Esta sabedoria de Deus é Cristo; Ele é “poder de Deus e sabedoria de Deus”. No Filho, com efeito, “encontram-se escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”; oculto no mistério, destinado previamente, desde antes dos séculos, Ele é o que foi predestinado e prefigurado na Lei e nos Profetas. Por isso, os profetas tinham o nome de “videntes”: viam Aquele que estava escondido e desconhecido dos outros. Também Abraão “viu o seu dia e rejubilou”.

Para Ezequiel, os céus abriram-se, enquanto para o povo pecador permaneciam cerrados. “Retirai o véu de cima dos meus olhos, diz Davi, e contemplarei as maravilhas da vossa lei”. Na verdade, a lei é espiritual e, para compreendê-la, é preciso que seja “afastado o véu” e que “a glória de Deus seja contemplada de rosto descoberto”.

No Apocalipse, mostra-se um livro fechado com sete selos. Quantos homens hoje, que se pretendem instruídos, têm nas mãos um Livro selado! São incapazes de o abrir, a menos que seja aberto por “Aquele que tem a chave de Davi; se Ele abrir, ninguém o fechará e, se Ele fechar, ninguém o abrirá”. Nos Atos dos Apóstolos, o eunuco lia o profeta Isaías; contudo, ignorava Aquele que venerava no livro sem O conhecer. Surge Filipe: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta!” Jesus mostra-lhe oculto pela letra: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheces? Eu e o Pai somos um”.

Compreenda, pois, que você não pode se comprometer com as Sagradas Escrituras sem ter um guia que lhe mostre o caminho. E este guia é a Última Palavra de Deus. Não espere outros sinais. Em Jesus, você tem tudo o que precisa para ser feliz para sempre. Se ainda tem dúvidas eu lhe mostro o Caminho.

Hoje, Jesus bate à sua porta e lhe diz: “Venha e siga-me, pois Eu e o Pai somos um. Venha que lhe mostrarei o Caminho que conduz à vida eterna”.

Padre Bantu Mendonça

O dom da oração


Orar é colocar-se em íntima união com o Pai, por Cristo, unidos no Espírito Santo. Nossas orações sempre são trinitárias, pois é impossível estarmos unidos com o Pai sem estarmos unidos com o Filho e o Espírito Santo. Impossível estarmos unidos com o Filho sem estarmos unidos com o Pai e com o Espírito Santo. Impossível estarmos unidos ao Espírito Santo sem estarmos unidos com o Pai e com o Filho.

O diálogo da fé, que também conhecemos como oração, nasce sempre de uma necessidade. Importante é termos consciência de que a necessidade, à qual nos impulsiona a oração, nem sempre terá como objetivo a petição. A necessidade da oração pode brotar por diversos motivos segundo os clamores do nosso coração.

Há momentos em que temos a necessidade de agradecer. A oração que brota da gratidão vem da necessidade de render à Trindade Santa os louvores pelas dádivas alcançadas ou simplesmente pelo reconhecimento da bondade divina presente em nossa vida.

Temos, contudo, a necessidade de pedir. Somos mendigos suplicantes. Diante dos limites humanos, o nosso coração tem a necessidade de um auxílio divino. Sozinhos nosso peregrinar torna-se muito difícil e faz-se necessário a presença de um Auxílio Divino que nos ajude a carregar o pesado fardo de nossas limitações humanas.

Na oração, nossa humanidade encontra-se em um nível íntimo e profundo com a Divindade. É um encontro de esperança e paz. Na ternura trinitária, somos acolhidos na situação em que nos encontramos. A única exigência necessária é um coração aberto e sincero. Onde há disponibilidade, o diálogo acontece. Falamos e escutamos; e quando as palavras cessam, o silêncio se torna intimidade e as palavras já não são mais necessárias, porque o coração humano se fez um com o coração divino.

Diante do incompreensível da vida, a luz do amor divino ilumina as trevas da incompreensão; então, somos guiados pelo caminho da paz. A ponte entre nossa condição humana e a ternura divina se chama oração. O que nos liga a Deus é o desejo sincero de, mesmo não sabendo orar, colocarmo-nos diante de Sua presença.

O medo é deixado de lado quando o amor de Cristo nos abraça em nossa finitude. A paz é reconquistada quando o Espírito Santo afasta as tempestades da alma. A segurança espiritual volta ao coração quando o amor de Deus tem livre acesso à nossa alma.

No encontro com a Trindade, encontramo-nos com nosso desejo mais profundo: sermos amados na gratuidade.


Padre Flávio Sobreiro

4º Domingo da Quaresma


A 1ª leitura mostra que o povo entra na terra prometida, cumprindo a promessa que o Deus da aliança havia feito a Abraão. O dom da terra, doado pelo Pai aos seus filhos, é celebrado com a festa da Páscoa, da mesma forma como começou a caminhada de libertação no Egito.

A 2ª leitura ressalta que a reconciliação realizada por Deus, através da vida, morte e ressurreição de Jesus nos transforma em criaturas novas. Deus renova todas as coisas e nos torna embaixadores de Cristo, na missão de construir um mundo de paz e fraternidade.

A parábola da misericórdia é um convite para participar da alegria do Pai que, pelo Filho Jesus, acolhe e salva os marginalizados e “perdidos”. O filho mais jovem pede a parte da herança, normalmente repartida após a morte do pai; afasta-se e cai numa situação de escravidão. Chega ao ponto mais humilhante, quando começa o caminho da volta e abertura à graça divina. Os gestos do pai ao ver o filho chegando, expressam o amor incondicional de Deus, que não se cansa de esperar a volta de seus filhos. A dignidade do filho é restaurada, sendo revestido com a túnica, com o anel nos dedos e as sandálias nos pés. O pai misericordioso acolhe com festa e vai ao encontro também do filho mais velho, incapaz de acolher e perdoar porque julga e condena. Os dois filhos são chamados a participar da mesma felicidade e vida plena em Deus e a viver fraternalmente como irmãos.

Revista de Liturgia

Jesus sempre age no momento certo


Diante de um bem realizado por Jesus, testemunhas oculares questionam: “Em nome e poder de quem Jesus estaria atuando?” Ele acabara de libertar um homem endemoniado. Vendo o homem curado e liberto, uma parte da multidão exclama impávida e pasmada: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios” (Lc 11,15).

Outros, querendo conseguir alguma prova contra Jesus, pediam que Ele fizesse um milagre para mostrar que Seu poder vinha de Deus.

E a atitude de Cristo – como sempre – é aconchegante e oportuna. Ele sempre age na hora e no momento certo.

“Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: ‘Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. Ora, se até satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por belzebu que eu expulso os demônios. Se é por meio de belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa’” (Lc 11,17-23).

A prática libertadora de Jesus, restaurando a dignidade e a liberdade das pessoas suscita, por um lado, a admiração das multidões e, por outro, a repressão dos chefes religiosos de Israel.

Jesus afirma que veio para libertar todos que estão retidos sob o poder do encardido, ou seja, em poder daqueles chefes religiosos, pois é preciso que todos saibam que é em nome e no poder de Deus que Ele veio, tornando presente o Reino de Deus, Seu Pai, entre nós.

Padre Bantu Mendonça

Ser presença


Na seara midiática, somos presença na vida das pessoas, mas de forma muito mecânica. Alí não sentimos o “calor humano”, o olhar nos olhos e a proximidade corpo-a-corpo. O mundo globalizado encurtou as distâncias e distanciou as pessoas. Com isto perdemos a dimensão rica e fundamental da vida de comunidade fraterna.

No entender dos crentes, Deus sempre marcou presença na história dos povos. É uma presença fundante, a qual dá sustentação para a existência das criaturas e questiona a pessoa humana quanto à prática do bem. No meio de crises, desastres e catástrofes da natureza, Deus nos convoca para acolher e respeitar a vida.

Ser presença é ser capaz de acompanhar as mudanças da história, ser capaz de adaptar-se às novas mentalidades sem perder aquilo que é essencial, isto é, a vida com dignidade. Não podemos cair na infertilidade, no descompromisso com o bem comum. Ser infértil é ser presença que não consegue entender o valor da vida.

Moisés foi uma presença marcante na vida do povo hebreu. Para isto teve de superar atitudes de comodismo, “tirar as sandálias” e colocar-se a serviço da libertação do povo. Nisto ele descobriu sua própria identidade, entendeu ter sido chamado por Deus para desempenhar uma importante tarefa, sendo presença nas dimensões de líder no meio do povo.

Como libertador, Moisés se apresenta na figura de alguém que é capaz de amar povo, com quem faz um pacto de preservação da vida. Sua ação revela a presença constante e transformadora de Deus nos fatos da história. Significa que o ser humano foi sempre acolhido, mesmo em situação de escravidão e de dignidade negada.

Sentimos em nossos tempos grande fragilidade na prática de fé. Até falamos de uma fé inconsistente, sem falar propriamente da falta de fé. Significa não reconhecer a presença de Deus no mundo e, muito menos, na vida de cada pessoa. Em muitos casos, a falta de fé ocasiona atitudes de desequilíbrio e de atos que não condizem com as realidades inerentes com a dignidade da pessoa humana.

Dom Paulo Mendes Peixoto,
Arcebispo de Uberaba

O amor é doação e necessidade


Neste artigo quero partilhar com vocês a bela intuição de C. S. Lewis sobre o amor-doação e o amor-necessidade em seu livro “Os quatro amores”.

Conforme ele mesmo diz, estava certo de poder dizer que o amor humano só mereceria ser assim chamado naquilo em que se assemelhava àquele Amor que é Deus, Amor-Doação. Mas, durante a reflexão ele percebeu, para o nosso bem, que a característica típica do nosso amor humano por Deus é o ser sempre, pela própria natureza, um amor-necessidade. Fato que se evidencia quando pedimos perdão de nossos pecados ou apoio nas tribulações.

Ora, o amor humano, para ser humano, necessariamente é um amor que necessita. O amor humano é amor-necessidade à medida que, sabendo-se necessitado, aproxima-se da vivência do amor-doação.

Constantemente o amor humano é taxado de puro egoísmo, mas, conforme afirma C. S. Lewis: ninguém chama de egoísta a criança que busca conforto na mãe, nem o adulto que procura “companhia” na pessoa de um amigo. O amor humano pode ser pervertido pelo pecado e se tornar egoísta, mas, em si, ele não é só egoísmo por necessitar primeiramente de Deus.

O amor humano, quando pervertido pelo pecado, pode tornar-se algo terrível, transformando-se assim em uma forma de ódio da pessoa contra si mesma, o que leva a pessoa à destruição nos diversos tipos de vícios.

É vontade de Deus que o nosso amor humano seja um amor necessidade: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso (cf.Mt 11, 28). Também sabemos que é natural a necessidade que temos de convivência com as pessoas. Mas devemos viver de tal modo que, a nossa necessidade de convivência com as pessoas, não se torne maior que a nossa necessidade de estarmos com Deus e tê-Lo próximo a nós pela via da oração.

Deus abençoe você
Blog Fragmentos

3º Domingo da Quaresma


A 1ª leitura nos mostra que na sarça ardente, Moisés fez a experiência que marcou toda a sua vida e missão. Ardia o coração de Deus ao ver o clamor e o sofrimento do seu povo; o mesmo Deus chamou Moisés para falar em seu nome e libertar o Povo. O Deus que se revelou a Moisés era ainda um Deus que não se podia tocar, que exigia reverência, mas já se revelou como Aquele que caminha com seu povo, aquele que se interessa pela história dos seus: “Eu sou o Deus de teus pais...” Precisamos perceber que Deus se interessa por nós e quer a nossa libertação, que Ele convida a cada um de nós para seguir os seus passos. Deus não fica assistindo o sofrimento, Ele se interessa por seus filhos e vem em seu auxílio para libertá-los. Mas ele precisa de pessoas de carne e osso que aceitem o convite dele para cooperar nesta libertação. Precisamos ser impregnados pelo mesmo fogo que abrasou o coração de Moisés, fazendo-o entusiasmado pela causa de Javé.

Na 2ª leitura, vemos que os judeus consideravam as catástrofes como castigos de Deus e a proteção um mérito por serem fiéis observantes da lei. Jesus mostra que não basta ser judeu, que ninguém tem nada garantido: todos precisam de conversão. Do mesmo modo, nós poderíamos nos considerar católicos fiéis, observantes da lei, o grupinho dos escolhidos. Como o Povo eleito, corremos o risco da infidelidade. Como aqueles que escutaram a palavra de Jesus, precisamos de conversão, para não perecermos todos do mesmo modo. Além disso, devemos cortar definitivamente da nossa mentalidade a ligação entre pecado e castigo: os males não são castigos, e todos nós somos passíveis do sofrimento. Aliás, muitos dos males são frutos de nossas próprias escolhas. Somos também responsáveis pelo bem e pelo mal que rodeia a nossa vida, provavelmente os primeiros responsáveis.

No Evangelho temos a parábola da figueira que não produz frutos. Aqui é interressante observar que o pecado da figueira não foi ter feito algo de ruim, mas de não ter feito nada de bom. A figueira foi infrutífera, tornou-se passível, imóvel. Corremos o risco de querer uma garantia, uma tranquilidade de consciência que me faz dizer a mim mesmo: “eu estou bem com Deus, não prejudico a ninguém, cumpro as minhas obrigações”. Mas Deus espera mais de nós. Não basta sermos cristãos aparentemente certinhos, cristãos de preceito, de um ritualismo vazio; precisamos produzir frutos. Conversão não significa focar o pecado, mas o bem que devemos realizar. Cada um de nós é convidado a produzir frutos - isso significa conversão! O que podemos produzir nesta quaresma?

Estamos no tempo da Quaresma, tempo de cultivar o dom da conversão. Trata-se de um processo que percorre toda a nossa vida. Seguimos a existência procurando nos configurar cada vez mais a Cristo, para sermos como Ele, tendo os seus sentimentos e atitudes, até que tenhamos a estatura do homem perfeito, como nos diz São Paulo em sua carta aos Efésios.

Deus na sua bondade é paciente em aguardar a nossa conversão. Poderia nos arrancar e queimar, mas não é o deus da punição, e sim o Deus amor. Mesmo que mereçamos tal sorte, Ele nos diz; “Vou dar mais uma oportunidade; virei em outra ocasião para colher os frutos”. Temos neste tempo mais uma oportunidade. Que frutos o Senhor encontrará?

Pe Roberto Nentwig