Padre Ivan de Souza participa do programa Contexto Geral da TV União

No próximo dia 04 de janeiro será exibida a entrevista com Padre Ivan de Souza, pároco do Santuário de Fátima, no programa Contexto Geral, na TV União.

Na entrevista ele vai falar sobre diversos assuntos: urgências da Igreja, comunicação e as novas mídias, família, juventude, drogas, corrupção, comunidades católicas, religiosidade e fé.

Acompanhe no dia 04 de janeiro, às 22 horas, na TV União

Paz e Bem!

A voz do Amor

Preparava-me para escrever, hoje, sobre João, quando o whatsapp traz mensagem do meu amado Frei Patrício:

“Jesus bate à porta do coração. Façamos silêncio para ouvir o seu chamado. A voz do amor só se escuta no amor. Feliz Natal!”

Sei que o Frei fala do Natal. Minha cabeça e coração, porém, estão também em São Joao, o Evangelista, que comemoramos hoje.

Jesus bateu à porta do coração de João: “Segue-me!” e a partir daí, ele, o mais jovem dentre os doze, sondou incansavelmente o coração do Mestre em itinerário incansável durante toda a vida.

Sondou o coração do Mestre, descobriu do Senhor. Mergulhou, vida e amizade, no coração do Senhor e encontrou o coração do Amado. Aí aprendeu Dele, reclinado, ouvido grudado, em perfeita imobilidade e silêncio.

“Sua mão direita está sobre minha cabeça e sua esquerda me abraça. E a bandeira de me cobre é o Amor”, já ensinam os Cantares. João sabia disso a cada dia. João sabia disso na Ceia! Como, então, não silenciar daquele abismo sem fundo do silêncio do amor? Como não fazer, uma última vez, a memória à qual aquele pulsar convidava: ‘Mestre, Senhor, Amado’? Como evitar o momento temido que se delineava à frente de todos?

Fora, gritaria, fuga, correria, pavor, luta, prisão! No Coração, silêncio, paz, amor, entrega! Todos fogem. João permanece no Amor, olhos fixos nos Dele, coração unido ao Seu a cada passo, a cada queda, a cada cusparada. João fica, aos pés da cruz. Com Maria. Três corações se unem na linguagem do silêncio de amor.

O som do Coração, tão familiar a João, bate também dentro dele, em sua alma unida, em sua memória, seus ouvidos, seu próprio coração, cada vez mais rápido… cada vez mais fraco… cada vez mais lento… até que para e se deixa esvaziar, em silêncio. O silêncio que cumpre a vontade do Pai. O silêncio que escuta o grito dos homens. O silêncio de Amor que vence a morte.

E João aprende, aos pés da Cruz, aos pés da Mãe, que o mesmo Coração com sua mesma música de amor, bate no peito de todo homem. “Amai-vos”, dirá, com a boca do Mestre, do Senhor, do Amado, do Deus Vivo!

João, discípulo: silêncio de amor para escutar o amor!

João, servo: silêncio de amor para obedecer o amor!

João, amado: silêncio de amor, sobre o Coração de Jesus, quase sem respirar para não atrapalhar o amor! Silêncio, no corpo e na alma, para amar o Amor!

João, evangelista: silêncio sobre o Amor para proclamar o Amor!

Maria Emmir Oquendo Nogueira
Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

Fim de ano – Dança comigo

“Tudo tem seu tempo e ocasião”, diz o Eclesiastes. “Para cada coisa”, dirá outra tradução, “há um tempo debaixo do sol.” O autor continua, a repetir as palavras, sem a menor pressa, criando, em sua narrativa,um ritmo que, por si só, expressa o que ele quer dizer: tudo tem seu tempo, tudo tem seu ritmo.

“Tempo de nascer, tempo de morrer;
tempo de plantar, tempo de colher;
tempo de derrubar, tempo de construir;
tempo de chorar, tempo de rir;
tempo de fazer luto, tempo de bailar;
tempo de abraçar, tempo de separar-se;
tempo de procurar, tempo de perder;
tempo de calar, tempo de falar;
tempo de amar, tempo de odiar;
tempo de guerra, tempo de paz”.

Como não rezar com esta passagem a cada final de ano? Como vivi os tempos que o Senhor providenciou? Como acertei o meu passo ao sábio compasso que marca o ritmo da vida, de tudo o que existe debaixo do sol, inclusive eu? Quem nasceu? Quem morreu? Em que nasci? Em que morri? O que plantei? O que colhi? O que derrubei? O que construí? Como chorei? Como ri? Como vivi o luto e a dança? A quem acolhi? De quem parti? A quem deixei partir?

Como falei? Como calei? O que calei? Para que calei? O que falei? Como falei? Para que falei?

Odiei? Fiz guerra? Perdi, então, todo o meu ritmo, todo o meu tempo. Gastei inutilmente os tempos que o Senhor providenciou. Atravessei o compasso que marca o ritmo da vida, inclusive da minha. Matei e morri. Plantei, mas não colhi. Destruí. Se ri, foi pantomima. Se chorei, foi de desgosto. Se dancei, foi grotesco. Se acolhi, só foi a mim mesma. A tudo e todos enxotei. Minhas palavras destruíram, meu silêncio foi omissão, falsa proteção a mim mesma. Odiei.

Amei? Então construí e promovi a paz, encontrei, então, o sábio ritmo da vida, o tempo interior só conhecido de quem ama. Aproveitei bem os tempos que me deu a Providência. Dancei, feliz e equilibrada, conduzida por meu divino par, ora valsas, ora noturnos, ora barcarolas, ora polcas e mazurcas, ao compasso que marca o ritmo da vida, de toda vida, da minha vida, da sua vida. Dancei, com toda a criação, com Deus e os irmãos. Deixei-me conduzir pelo hábil Cavalheiro. Nasci e dei à luz. Plantei e colhi. Derrubei feiúra, colhi beleza, bem, verdade. Ri, feliz ao acolher, nas dobras da renúncia do amor, meu irmão, a vida, as circunstâncias. Rodopiei, confiante e tranqüila, a guardar segredos de amor em meu coração. Amei.

Ora amei, ora odiei? Natural. Sou pecadora. Sou imperfeita. Sou humana. Simplesmente vivi. Colhi os frutos do meu ódio e do meu amor.

Uma coisa sei que, com a mais absoluta certeza, tive, eu, assim como você: o amor do Pai em toda circunstância. A salvação do Filho todos os dias do nosso ano. A ação santificadora do Espírito, disponível em toda ocasião. Criador e criatura dançamos juntos, tal pai e filha na festa dos quinze anos, tal casal de noivos nas bodas, envolvidos, sempre, por muitos outros pares, milhares, milhões, bilhões de outros pares.

Chegamos ao fim de mais um ano em nossa bela sonata da vida. É preciso dar o comando de replay e assisti-la outra vez, serenamente, ouvindo detalhes perdidos na correria, na emoção dos acontecimentos: stacatos sutis, ligaduras ressonantes, fermatas desconcertantes.

Começa uma nova página. Quantos compassos teremos? Que temas se repetirão? Que novos tons serão adotados? Que novas frases musicais serão relidas, recriadas? Que outros instrumentos entrarão? Que interpretação escolheremos dar? Que passos criaremos? Como faremos a leitura, compasso a compasso?

Deus sabe! E é nisso que reside nossa tranquilidade, nossa confiança. Não conhecemos o que virá, mas pelos temas, frases, harmonias e compassos, pelo ritmo e pelo tom já tocados, sabemos que, tocada a quatro mãos, nossa composição será bela. O ritmo, por vezes sincopado, combinará com soluços. O compasso em sua batida convencional, evocará a rotina, que também revela beleza. As notas que voam, oração. As que ficam na memória, contemplação. As que marcam a base, convicção. As que desenham a melodia, inventividade.

Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe! Que a proposta de uma vida alucinada não nos seduza. Que o ritmo da evangelização, do amor, este, sim, seja alucinado, sem medida: Jesus tem sede, tem pressa. O ritmo interior, porém, este seja aquele secreto, confiante, sábio, paciente ritmo interior de Maria: “Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe! Tudo passa! Deus fica! Deus sabe! Para tudo há um tempo debaixo do sol. Não temo! Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe!”

Neste ano, conceda-nos Deus dançarmos tranquilos, ao ritmo interior do mistério da vida.

Comunidade Shalom

Os exemplos da Sagrada Família para sermos famílias sagradas

É certo que o Senhor destinou graças especiais aos membros da Sagrada Família, tanto de forma individual – Maria e Jesus nasceram sem a mancha do pecado original, José tinha o dom de ser informado, por Deus, sobre um acontecimento, por intermédio de sonhos – , como também de maneira coletiva, na composição do ambiente familiar – o cuidado da divina providência para com suas vidas e no âmbito material.

Contudo, engana-se quem pensa que, por terem esses favores do Pai, era mais fácil para Jesus, Maria e José terem uma vida exemplar de santidade, como se para desenvolverem a missão que o Altíssimo lhes havia confiado “uma ação divina os desobrigava de maiores esforços humanos, lhes diminuindo a exigência, fadiga ou iniciativa…algumas vezes lhes foi exigido serem canais de vigor e conforto para outros, foram contrariados e provados em seus planos e também em seus instintos humanos” (Trecho do livro “Maria, humana como nós”, pág 28 e 29). Jesus depois diz “a quem muito for dado, muito será exigido” (Lc 12, 48).

Estou dizendo tudo isso a você para mostrar que Deus também lhe deu dons naturais e sobrenaturais e que, para que sua família tenha êxito no amor, serão requisitados de sua parte esforço, lágrimas e, quem sabe, algumas decepções, mas é possível tornar sua família, seja lá como esta estiver, uma família sagrada.

Então, aí vão alguns pontos para começarmos a refletir sobre isso e a fazer a nossa parte, para que a nossa família seja um reflexo da Sagrada Família de Nazaré nos tempos de hoje.

- Introduzir a família em Deus.

José e Maria eram engajados nos preceitos da lei, mas principalmente no amor ao Senhor, já antes de se conhecerem. Caso não tenha sido assim com vocês, é preciso iniciarem uma vida de oração e de intimidade com Deus. Se não for possível orar todos juntos, orem apenas marido e esposa, ou ore só você pelos seus, mas comece a fazer isso para nunca mais parar.

Deus dá a sabedoria e o discernimento em nosso agir e falar, então, uma hora conquistamos as pessoas para o Senhor por intermédio do nosso testemunho e amor.

- Nas crises, decidir pelo bem uns dos outros.

Ao saber da gravidez de sua noiva, José deve ter imaginado que ela o tenha traído, e a lei dos judeus condenava à morte a mulher que assim procedesse. Entretanto, mesmo sentindo-se injustiçado, a intenção desse homem de Deus foi de garantir a vida da pessoa que ele amava e de uma criança inocente.

Que toda decisão, entre pais e filhos e entre esposos, mesmo os “nãos”, seja de amor e nunca por qualquer outra motivação.

- Confiança na Divina Providência.

Os sonhos de São José, a visita de Maria à sua parenta Isabel, deixando tudo às vésperas do seu casamento, a fuga para o Egito no meio da noite, tudo isso nos deixa transparecer que a Sagrada Família era incondicionalmente abandonada aos cuidados da providência de Deus. Eles confiavam suas vidas ao Senhor no âmbito financeiro-material, social (não se importaram com o que diriam deles a respeito da gravidez) e ministerial.

Trabalhavam e muito, mas tinham em mente “não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem pelo vosso corpo, pelo que vestireis” (Mt 6, 25).

- União; lutar uns pelos outros.

Quando Jesus se perdeu no templo, Maria e José voltam a Jerusalém juntos. Um não culpou o outro tentando encontrar um erro, mas ambos se uniram em prol da solução do problema.

Se um membro da sua família está se perdendo, é importante que toda a família se una em oração e ação para trazê-lo de volta.

Também é bonito ver quando todos concentram esforços para que um familiar estude e para promoverem os projetos uns dos outros. A família existe também para somarmos nossas forças.

 – Ensine seu melhor para seus filhos.

De José, Jesus herdou a profissão de carpinteiro, e de Nossa Senhora, experiências em trabalhos que Ele conheceu em sua própria casa: “o sal é bom. Mas se perde o seu sabor, com que há de salgar?” (Lc 14, 34). Veja ainda outras atividades que Ele atribui como trabalho de mulheres em Mateus 13,33 e Lucas 15,8. “A sociedade da época não permitia que o homem realizasse tais trabalhos, mas Jesus, no mínimo, observava bem Sua mãe” (Trecho do livro “Maria, humana como nós”, pág. 113). Isso é se Ele também não a ajudava!

Seus filhos precisam muito mais de sua presença e de seus ensinamentos de vida do que de bens ou itens de conforto material. Acredite!

E assim, inspirado nestes passos, que, neste fim de ano, no Dia da Sagrada Família, Jesus, Maria e José venham trazer o dom da alegria em sua casa. Uma alegria que não é fruto de risos ou da satisfação por presentes, mas da felicidade forjada na esperança. Que seu coração vislumbre para 2015 tudo aquilo que você e sua família podem ser. Tudo aquilo que é projeto do Pai para todos os seus.

Feliz Ano Novo!

Sandro Arquejada
Missionário da Comunidade Canção Nova

Confira na íntegra mensagem do Papa Francisco para o Natal


Boletim da Santa Sé

Queridos irmãos e irmãs, bom Natal!

Jesus, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, nasceu para nós. Nasceu em Belém de uma virgem, dando cumprimento às profecias antigas. A virgem chama-se Maria; o seu esposo, José.

São as pessoas humildes, cheias de esperança na bondade de Deus, que acolhem Jesus e O reconhecem. Assim o Espírito Santo iluminou os pastores de Belém, que acorreram à gruta e adoraram o Menino. E mais tarde o Espírito guiou até ao templo de Jerusalém Simeão e Ana, humildes anciãos, e eles reconheceram em Jesus o Messias. «Meus olhos viram a salvação – exclama Simeão – que ofereceste a todos os povos» (Lc 2, 30-31).

Sim, irmãos, Jesus é a salvação para cada pessoa e para cada povo!

A Ele, Salvador do mundo, peço hoje que olhe para os nossos irmãos e irmãs do Iraque e da Síria que há tanto tempo sofrem os efeitos do conflito em curso e, juntamente com os membros de outros grupos étnicos e religiosos, padecem uma perseguição brutal. Que o Natal lhes dê esperança, como aos inúmeros desalojados, deslocados e refugiados, crianças, adultos e idosos, da Região e do mundo inteiro; mude a indiferença em proximidade e a rejeição em acolhimento, para que todos aqueles que agora estão na provação possam receber a ajuda humanitária necessária para sobreviver à rigidez do inverno, retornar aos seus países e viver com dignidade. Que o Senhor abra os corações à confiança e dê a sua paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra abençoada do seu nascimento, sustentando os esforços daqueles que estão ativamente empenhados no diálogo entre Israelitas e Palestinianos.

Jesus, Salvador do mundo, olhe para quantos sofrem na Ucrânia e conceda àquela amada terra a graça de superar as tensões, vencer o ódio e a violência e embarcar um caminho novo de fraternidade e reconciliação.

Cristo Salvador dê paz à Nigéria, onde – mesmo nestas horas – mais sangue foi derramado e muitas pessoas se encontram injustamente subtraídas aos seus entes queridos e mantidas reféns ou massacradas. Invoco paz também para outras partes do continente africano. Penso de modo particular na Líbia, no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e nas várias regiões da República Democrática do Congo; e peço a quantos têm responsabilidades políticas que se empenhem, através do diálogo, a superar os contrastes e construir uma convivência fraterna duradoura.

Jesus salve as inúmeras crianças vítimas de violência, feitas objeto de comércio ilícito e tráfico de pessoas, ou forçadas a tornar-se soldados; crianças, tantas crianças vítimas de abuso. Dê conforto às famílias das crianças que, na semana passada, foram assassinadas no Paquistão. Acompanhe todos os que sofrem pelas doenças, especialmente as vítimas da epidemia de Ebola, sobretudo na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Ao mesmo tempo que do íntimo do coração agradeço àqueles que estão trabalhando corajosamente para assistir os doentes e os seus familiares, renovo um premente apelo a que sejam garantidas a assistência e as terapias necessárias.

Jesus Menino. Penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo duma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!

Queridos irmãos e irmãs, que hoje o Espírito Santo ilumine os nossos corações, para podermos reconhecer no Menino Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria, a salvação oferecida por Deus a cada um de nós, a todo o ser humano e a todos os povos da terra. Que o poder de Cristo, que é libertação e serviço, se faça sentir a tantos corações que sofrem guerras, perseguições, escravidão. Que este poder divino tire, com a sua mansidão, a dureza dos corações de tantos homens e mulheres imersos no mundanismo e na indiferença, na globalização da indiferença. Que a sua força redentora transforme as armas em arados, a destruição em criatividade, o ódio em amor e ternura. Assim poderemos dizer com alegria: «Os nossos olhos viram a vossa salvação».

Com estes pensamentos, a todos bom Natal!

Sagrada Família

As leituras e o salmo orientam a interpretação do Evangelho da apresentação do Menino. Abraão, Sara, Isaac são personagens centrais que perpassam os textos e guardam características muito comuns ao velho Simeão e à profetiza Ana. Dois homens e duas mulheres idosos, todos justos diante de Deus, irmanados pela esperança: um casal esperando a descendência e outro a realização das promessas messiânicas. Mas Abraão e Sara que em Isaac veem perdurar a descendência, são retomados na segunda leitura na perspectiva tipológica, isto é, são figuras que prenunciam a realização na economia neotestamentária. São tipos de Simeão e Ana, que no contexto litúrgico, ao seu modo, são os “novos Abraão e Sara”. Eles vêem no Menino, trazido por Maria e José, realizar a salvação, a luz que alcançar a todos os povos.

A vida futura, que, na Antiga Aliança, era compreendida na base da descendência, tem então nestes versículos escolhidos para esta liturgia apresentado nestes dois casos a evolução sofrida ao longo da historia da salvação: Abraão é desafiado a provar sua fé nas promessas divinas, sacrificando sua ultima esperança, seu próprio filho Isaac. O sacrifício não se efetua, mas a fé se confirma.

Tal compreensão e experiência da vida eterna se amadurece ao longo do percurso entre Abraão e a chegada do Menino ao Templo. Neste último se entrevê um novo sacrifício a ser realizado e a vida eterna não mais fundamentada na descendência, mas na entrega, voluntária e amorosa de Jesus, gerando a vida eterna para todos com sua ressurreição. Outrora Deus, para provar a fé do seu servo, pede o sacrifício do seu único Filho. Na nova economia, Deus aceita a oferenda livre de Jesus, que gera a fé e confirma a esperança da humanidade.

Maria e José, os ais de Jesus, levam ao templo, lugar do encontro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres, a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa situação que se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons, a humanidade oferece aquilo que tem: fragilidade, pobreza e pequenez.

Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família, é esse o lugar de encontro, profundamente humano e existencial, com a obra preferida de suas mãos. A nós ele oferece o seu Filho. A humanidade figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus, que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado e da morte.

Diocese de Limeira

À espera do mundo novo

Enquanto o inimigo tenta nos derrubar, seguimos com os olhos no Alto, vivendo na mais legítima esperança: estamos caminhando para Céus Novos e uma Terra Nova, que estão muito próximos. E o Senhor nos trará a humanidade nova, onde toda lágrima se enxugará e todo joelho se dobrará diante de Deus.

“Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isso se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos” (1 Jo 2,18-19).

Se a época de João era o começo dos últimos dias, agora estamos nos últimos momentos, na última hora. Como nos alerta a Palavra de Deus, precisamos ficar atentos, pois muitos anticristos estão surgindo em nosso meio.

O Filho de Deus deixou, nesta terra, a semente do Reino do Céu, que durante anos germinou e floresceu. Em nossos dias, encontramo-nos diante de duas realidades: há a semente que o demônio semeou, cujos frutos são um mundo sem Deus, semeadas por Jesus, que, de maneira pobre e humilde, regou-a com Sua Palavra e Seu Sangue. O Senhor, cuja semente é de paz e fraternidade, foi arrebatado pelo Pai e levado de volta para o céu, onde aguarda a separação do joio e do trigo:

“Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: – Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio? Disse-lhes ele: – Foi um inimigo que fez isto! Replicaram-lhe: Queres que vamos e o arranquemos? Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro” (Mt 13,25-30).

Duas sementes foram plantadas: a semente do Reino, plantada pelo Pai, e a semente do joio, plantada pelo demônio. Quando os operários perceberam que o joio crescia com o trigo, ficaram espantados, pois não souberam explicar a sua origem. Receberam a orientação: “Você não devem tentar arrancar o joio antes da colheita, senão fatalmente irão arrancar junto o trigo. Deixem que o joio e trigo cresçam juntos”.

O termo “julgar” era muito  utilizado pelas gerações passadas para definir um trabalho de separação de dois opostos, do bom e do ruim, como fazemos com o feijão antes de cozinhá-lo: separam-se os feijões carunchados de um lado e os sadios de outro. O Senhor está voltando para julgar a terra. Alegre-se, pois toda a sujeira irá embora. Todos aqueles que não possuem amor no coração serão colocados de lado. Não seremos nós que realizaremos isso, mas o Senhor que virá para fazer o julgamento: a separação!

O Pai, então, mandará os anjos do céu para arrancar o joio. Isso acontecerá no tempo de Deus. Por enquanto, cabe a nós suportar as críticas e humilhações provenientes dos que não temem ao Senhor.

Precisamos ser um povo tenaz, que aguarda ansiosamente pelo Senhor. Não podemos estar despreparados, portanto decida-se pelo Senhor e assuma e sua posição de combatente: “Desperta, tu que está dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5,14).

Monsenhor Jonas Abib
Artigo extraído do livro ‘Combatentes na Esperança’

Solenidade do Natal do Senhor

Lemos à profecia de Isaías (9,1-6), à luz do nascimento, vida, morte ressurreição de Jesus. O profeta anuncia que chegou a salvação para os pobres e oprimidos.

A profecia se refere à destruição de Israel, reino do norte pelo rei da Assíria, 732 a.C. O povo, dominado, sem liberdade, está nas trevas e nas sombras da morte. Isaías anuncia a libertação em três momentos: uma Luz que brilha, como nova criação; o fim da guerra, da opressão e recuperação de tudo que lhe foi roubado; e o nascimento de um menino é o anúncio central.

Num rio solene, o recém-nascido recebe um manto sobre seus ombros e um nome, evitando o nome de rei: conselheiro maravilhoso, admirável – mais sábio do que Salomão – , capaz de fazer justiça ao povo. Deus forte, Guerreiro divino – mais forte que Davi – , defendendo o povo das ameaças externas, pois tem a força de Deus. Pai, chefe perpétuo, para sempre – supera a liderança de Moisés, conduzindo o povo à Terra definitiva. Príncipe da Paz – por seu projeto de vida, exercício do direito e da justiça e da justiça em defesa do povo oprimido, criará a paz. Seu nome revela seu agir a favor do povo sofrido.

Isaías descreve as conseqüências de uma administração justa: “para a paz não haverá limites. Sentado no trono, com o poder real de Davi, fortalece e firma esse poder, com a prática do direito e da justiça, a partir de agora e para sempre” (Is 9,6). Quem garante e realiza isto é o amor cioso, o zelo, o ciúme do Senhor. É o projeto que Deus quer ver realizado no mundo.

A carta de Paulo a Tito é catequética, traçando grandes linhas de comportamento particular e social. O ponto de partida é a manifestação da clemência de Deus, a seu favor, a sua graça que se expressa na encarnação do Filho, para a salvação de todos.
Os cristãos são convocados a viver a novidade do Evangelho de Jesus Cristo. É necessário romper com as atitudes e paixões do mundo, modo de viver contrário ao que Deus nos revelou no Messias; e todos são convidados a viver no “tempo presente com equilíbrio, moderação, justiça e piedade à espera da bem-aventurada esperança” (Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento, Natal e Tempo Comum, Ano A, São Mateus. CNBB, 2013.p.43) – a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, que se entregou totalmente para nos resgatar e purificar. O discípulo de Jesus vive nessa tensão: romper com a impiedade e viver a justiça. Ser cristão é dedicar-se à prática do bem, atualizando as ações libertadoras do Salvador.

O Evangelho é uma releitura da infância de Jesus sob a luz de sua paixão, morte e ressurreição. Lucas medita a ida de Maria e José a Belém e o nascimento de Jesus na pobreza, na época de Cesar Augusto, imperador romano desde o ano 27 antes de Cristo. A viagem tem como finalidade o recadastramento ordenado pelo imperador para arrecadar impostos. O império Romano exerce um poder de dominação sobre as pessoas, explorando-as. O nascimento de Jesus nesse tempo e lugar revela que a salvação não vem dos poderosos, mas de um pobre, filho de marginalizados e explorados.

José e Maria sobem, vindos e Nazaré, na Galileia, para Belém, cidade de Davi, na Judeia, para se recensearem, porque eram da casa de Davi. Maria estava nos últimos dias de gravidez e aí se completaram os dias de parto. E ela deu à luz ao filho primogênito, envolveu-o com faixas e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Ao descrever o nascimento de Jesus, Lucas estabelece um paralelismo com a morte e ressurreição do Messias: José de Arimatéia “desceu o corpo da cruz enrolou-o num lençol e colocou num tumulo escavado na rocha” (Lc 23,53a). O Evangelista descreve o nascimento do Messias à luz do evento central da nossa fé. Seu nascimento já é o anúncio de sua morte.

Narrando o nascimento de Jesus, em Belém, casa de Davi, apresenta Jesus como o Messias pobre, nascido entre os pobres pastores, que estavam nos campos, guardando o rebanho, à noite. É a lembrança do jovem pastor Davi, sem aparência de grandeza, escolhido para ser rei de Judá, unificando o povo, trazendo paz e liberdade. O Messias recém-nascido escolhe caminhos novos não percorridos pelos poderosos de sua época.

Além dos pastores, surge o Anjo do Senhor, sua glória e luz. Na Bíblia, a glória do Senhor designa a manifestação visível do mistério de Deus. Lucas a atribui a Jesus na transfiguração, na ressurreição e em sua segunda vinda.

Os pastores se atemorizam e o Anjo lhes diz: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo (…)” (Lc 2,10). Os pastores viviam à margem da comunidade praticante, por isso eram malvistos e desconsiderados. Mas eles são os favorecidos por ser gente simples, sem preconceitos, receptivos à revelação de Deus. O Sinal que lhes é oferecido é “um menino ‘na pobreza e na humildade. E ao anjo, juntou-se uma multidão celestial que louvava a Deus dizendo: “Glória a Deus nos mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!’”(2,14). Paz aos que são objeto da benevolência divina, não por iniciativa humana, mas por vontade de Deus.

Diocese de Limeira

A alma pura não se deixa levar pela maldade

Hoje nós acompanhamos um dos cânticos mais belos de toda a Sagrada Escritura: o cântico do Magnificat; o canto de ação de graças, de júbilo e de reconhecimento pela grandeza de Deus. Maria não exalta a si mesma; ela reconhece a grandeza d’Aquele que realizou nela as Suas maravilhas e as Suas graças. Maria exalta a promessa de Deus de salvação e de resgate do Seu povo.

Deixe-me falar uma coisa ao seu coração: só quem é justo e vive a pureza do seu coração sabe reconhecer, engrandecer e agradecer a bondade e a ternura de Deus para conosco. Ao passo que, quem não vive na justiça e na presença de Deus, não sabe reconhecer as grandezas d’Ele; está sempre reclamando, murmurando e amaldiçoando; está sempre querendo arrancar algo de Deus pela força da reclamação. E não é assim!

Se queremos estar verdadeiramente próximos do coração de Deus, a primeira coisa a fazer é viver na vontade d’Ele. Esse é o modo de sermos mais justos e corretos nesta vida, colocar em prática aquilo que é a vontade de Deus. Nós, muitas vezes, clamamos a justiça de Deus e somos os primeiros a viver na injustiça, a viver uma vida que não é correta.

A segunda coisa a fazer é viver na pureza do coração, é viver sem maldade no coração, é ter dentro de si repugnância a tudo aquilo que é mau e maldade para com os outros. Às vezes as pessoas arquitetam dentro de si, na mente e no coração, maldades contra o seu próximo; maldades que vêm do ressentimento, da mágoa, ou mesmo, da inveja e do ciúmes desse sentimento competitivo do mundo em que nós vivemos. A alma pura não se deixa levar pela competição, pelo orgulho nem pela maldade!

Mesmo quando não é reconhecida, e é pisada pelos homens, essa alma não deixa de reconhecer onde está a mão de Deus, onde está a presença d’Ele. Ela vive na sua intimidade, mesmo que seja no sofrimento e na humilhação, o reconhecimento pela mão de Deus, que nunca nos abandona. Ainda que, muitas vezes, os homens, mesmo os homens de Deus, não sejam para nós o melhor sinal da presença d’Ele, a pessoa pura e sábia sabe distinguir que Deus está acima de todas as coisas.

Ao Senhor o louvor, a honra, a glória e o reconhecimento! Minha alma canta e glorifica a bondade do Senhor Nosso Deus!

Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova

4º Domingo do Advento

A profecia de Natã foi o ponto de partida e o eixo de sustentação do movimento messiânico. Desse texto nasceram as esperanças de um rei, descendente de Davi, capaz de trazer para o seu povo uma era de paz e prosperidade. Tudo começou quando Davi fez de Jerusalém a capital do seu Império. De guerrilheiro que era, Davi tornou-se dono de um palácio. Ele tem o firme propósito de construir um templo para o Senhor, pois, não considera digno que o Senhor habite debaixo de uma tenda.

Inicialmente, recebe aprovação do profeta Natã. Mas Deus não quer enquadrar-se num espaço físico. Deus vive no meio do povo, e a construção de uma casa para Ele seria confiná-lo e submetê-lo aos caprichos do rei. O profeta apóia a idéia do rei, mas Deus discorda dando uma mensagem do mais alto alcance: não seria Davi a erguer uma casa ao Senhor, mas Deus ira fazer uma casa para Davi.

“O teu trono será firme para sempre” (2Sm 7,16). Este versículo contém uma das mais importantes profecias do messianismo régio. A profecia aparece cumprida no Novo Testamento, uma vez que Jesus é descendente de Davi. “O seu reino não terá fim” (Lc 1,33), pois a realeza manteve-se dentro da casa (família) de Davi; o seu reino é eterno, entenda-se, no sentido religioso, não no sentido político.

Na Carta aos Romanos lemos que o projeto de Deus foi preanunciado de muitos modos e por muitas pessoas. Mas somente em Jesus Cristo é que chegou à sua plena manifestação. Jesus é o lugar onde Deus se deu a conhecer e tornou clara sua vontade de congregar em si todas as nações, para levá-las à obediência da fé.

No Evangelho (Lc 1, 26-38), Jesus, ao se encarnar, escolhe um meio alternativo: não se apresenta ao mundo a partir de um palácio mas da periferia, numa cidade da Galileia, chamada Nazaré, desconhecida, lugar de onde nada se esperava de bom. Ele se encarna no seio de Maria, uma jovem galileia, símbolo de todo os empobrecidos que aguardam a libertação.

Maria é noiva de José, descendente de Davi. Maria concebe Jesus antes de ir morar com José. O modo extraordinário como Jesus foi concebido mostra a novidade com que Deus age na história e demonstra que o menino é considerado, para qualquer efeito, filho de José e descendente de Davi.

Maria é convidada a não ter medo, à semelhança dos grandes personagens bíblicos (Abraão, Moisés, Pedro, etc), pois encontrou graça diante de Deus.

O anjo explica a Maria como isso vai acontecer: “o Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra (…)” (Lc 1,35). A sombra recorda a nuvem que no passado cobria a tenda da reunião e acompanhava o povo na caminhada para a terra da promessa, onde seriam construídas sociedade e histórias novas. A nuvem lembra que Deus é, ao mesmo tempo, presença e mistério. Presença que torna conhecido e mistério que o impede de ser manipulado.

Para Lucas, Maria é o tipo de discípula que Deus procura para construir a sociedade e a história novas. Ela se põe à disposição do projeto de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Nela estão as duas atitudes fundamentais de quem está disposto a se comprometer com a nova história trazida por Jesus: fé e serviço; entrega e gratuidade.

Diocese de Limeira

Receba Maria em sua casa neste Natal

Maria, escolhida por Deus para ser a Mãe do Seu único Filho, Jesus, é tomada pelo Espírito. O que ela concebe no ventre não é obra de ação humana, de desejo humano, mas é plena posse do Espírito Santo de Deus.

Nós não tememos em assim dizer que aquela que é a filha predileta de Deus, aquela que é Mãe do Filho de Deus, é a esposa do Espírito de Deus. Que mistério maravilhoso se encerra no ventre e no ser de Maria!

Sabem, meus irmãos, o que se realiza em Maria é algo maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, também algo espantoso, que causa dificuldade e confusão em nossa humanidade tão frágil  para compreender a grandeza da ação de Deus.

São José teve medo, receio, quis fugir e Deus se manifestou por intermédio de um anjo dizendo a ele: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo” (Mateus 1, 20).

Você quer receber Jesus na sua vida? Você quer receber Jesus como seu único Senhor e Salvador? Você quer abrir as portas da sua casa e do seu coração para receber Jesus a cada dia? Deixe-me dizer a você: não tenha medo de receber Maria, não tenha medo de amá-la, não tenha medo de tê-la como mãe, como senhora, como serva e como discípula do Senhor. Não, não tenha medo!

Eu sei que nós, muitas vezes, temos certo medo, somos tomados por mentalidades erradas sobre a devoção a Nossa Senhora, mas tudo que a Virgem Maria tem a nos trazer é a plenitude de Deus! Ela traz em si, para sempre, para todas as gerações, o maior presente da humanidade, ela traz Jesus! Ela é a arca, é um canal, não é a bênção, mas o canal da bênção; não é a graça, mas o canal da graça! Ela não é Deus nem uma semideusa, mas é a portadora desse mesmo Deus, é o sacrário vivo que traz Jesus até nós!

Neste Natal a receba, abra as suas portas e peça: “Maria, vem trazer Jesus para minha casa, para a minha família; vem trazê-Lo para o meu casamento. Assim como trouxeste Jesus para morar no meio de nós, traz Ele de novo para vir morar na minha casa, na minha família!”.

Se você tinha medo de amar a Santíssima Virgem Maria, se você tinha receio em recebê-la, eu digo a você: Não tenha receio disso! Quem primeiro a amou, quem primeiro a quis bem, foi Deus. Como eu não sou mais do que Deus, sou apenas um servo de Deus, eu quero abrir plenamente o meu coração para amar aquela a quem Deus amou primeiro!

Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova

Nossa história precisa ser curada, liberta e transformada

Amados irmãos e irmãs no Senhor, nós estamos na semana próxima do Natal do Senhor, daqui a uma semana já celebraremos o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso a liturgia desta semana é muito especial por nos colocar cada vez mais próximos desse grande mistério da primeira vinda de Jesus.

O Evangelho que nos é apresentado hoje é até monótono de ser lido, porque, afinal de contas, conta-nos nomes diferentes, alguns até estranhos, narra uma série de nomes; por isso para quem apenas o escuta pode parecer cansativo. Mas, na verdade, é um dos Evangelhos mais belos quando nós entramos na profundidade dele.

Primeiro, ele nos mostra algumas coisas importantes, nos dá a certeza e a garantia da humanidade plena de Jesus. Quando nos mostra quem são e qual a ascendência de Jesus, quem foram Seus antepassados, nos mostra um Jesus enraizado na humanidade. Ele veio do céu, mas veio para ser plenamente homem!

E nos mostra que, assim como nós, nos antepassados de Jesus existem bênçãos, muita coisa bela e positiva. Jesus é filho de Abraão, de Isaac, de Jacó; Jesus é descendente de Davi, mas também nos mostra que nem tudo é bênção, que nem tudo parece ser tão positivo e tão “bonitinho” assim. Nós, quando queremos contar a nossa história, só contamos aquilo que é o mais bonito. E algumas pessoas até gostam de se vangloriar, dizendo: “Meu avô era isso! Meu tataravô foi aquilo!”.

Também na história de Jesus há elementos negativos, ou melhor, às vezes nem tão belos, mas que foram transformados pela graça de Deus. Você vai ver que há prostituta, há adúltera, há estrangeira nos antepassados de Jesus, porque não pertenciam à linhagem de Israel, e tudo isso Ele veio para abençoar. Olhando para o próprio Davi, de quem Jesus é descendente, o rei que agradou o coração de Deus e que também foi um adúltero pecador, o Senhor é descendente dele e não nega isso.

Da mesma forma, nós não podemos negar a nossa história, não podemos negar o nosso passado nem os nossos antepassados, pois o nosso passado e os nossos antepassados não são para nos envergonhar ou para nos encher de vanglórias por causa deles. Eles são, na verdade, a nossa história, que é para ser curada, liberta e transformada!

Quando Jesus entrou na história da humanidade, Ele a transformou e aqueles que se permitem ser tocados por Ele têm também a sua história transformada!

Eu quero convidá-lo a olhar com muita seriedade a sua história de vida, a sua história pessoal. Procure conhecer quem foram seus antepassados, de onde você veio, qual é a sua linhagem familiar, seus avós, seus tataravós, a sua quarta, terceira e as gerações passadas. Isso vai ajudá-lo, não é para o amargurar nem para o torturar, mas é para você encontrar a cura e a salvação na sua própria história. Assuma ser plenamente quem você é!

Assim como Jesus assumiu Sua história e esta se tornou salvação para a nossa história, Ele quer assumir a vida de cada um de nós, curar os nossos passados e antepassados e fazer o nosso presente sempre mais belo, pleno e abençoado!

Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova

“Ame alguém e o leve para o céu”...

O filósofo judeu Fílon de Alexandria (cerca de 20 a.C. – 40 d.C.) afirmou: “Seja amável, pois cada pessoa que você encontra trava uma grande batalha”. Ele sabia que as pessoas estavam sofrendo. Apesar das aparências, apesar do rosto que essa pessoa mostra ao mundo, cada um de nós sofre alguma coisa. Muitos de nós tentam aliviar seus sofrimentos com os “remédios” que o mundo sugere: materialismo, entretenimentos, passatempos, sexo, comida, bebida, drogas… Ao invés de nos sentirmos melhores, tais coisas, muitas vezes, desviam a nossa atenção de Deus e, consequentemente, nos tornam carentes de amor e vazios. Não importa quais são os desafios que você e sua família estão enfrentando – desemprego, problemas financeiros, de saúde, vícios, divórcio –, a única fonte duradoura de conforto e de segurança é Deus, Todo-Poderoso.

Os primeiros cristãos eram tão carinhosos e compassivos, que seus vizinhos pagãos se maravilhavam: “Veja como eles (os cristãos) se amam!”. O carinho dos primeiros cristãos atraía muitos à conversão e serviu para formar a Igreja. Não é diferente de hoje: todos querem ser tomados de amor ao cuidarem das pessoas.

É por meio do amor que Jesus atrai as almas para Si. É por amor que Jesus resgata as ovelhas perdidas. Além disso, Cristo espera que cada cristão batizado se una a Ele na missão de salvar as almas.

Antes de subir ao céu, Jesus disse: “Ide, pois, e fazei discípulos a todas as nações” (Mt 28,19). Desde então, a Igreja Católica tem entendido que a sua principal missão é evangelizar. No entanto, a evangelização não se limita aos missionários enviados a terras longínquas. Você e eu temos a missão de levar a mensagem do Evangelho e do amor a Deus para a nossa família e amigos, vizinhos e colegas de trabalho.

Talvez você esteja pensando: “Minha fé é algo particular. Não quero fazer proselitismo”. Talvez você esteja com medo por não conhecer sua fé de modo suficiente para explicá-la aos outros. No entanto, você não precisa ser um teólogo. O que você deverá fazer é lançar a semente, o que não é necessário fazê-lo abordando questões doutrinárias difíceis, mas apenas contando a história das coisas boas que Deus fez em sua vida. Você pode falar sobre as orações que Deus tem lhe respondido, a paz que foi restaurada na sua família e de todas as outras bênçãos que Deus tem lhe dado. Se falar com o coração, com sinceridade e amor, coisas maravilhosas vão acontecer. Não tenha medo! Esteja aberto a rezar todos os dias para que Deus lhe conceda a graça de ajudar a levar alguém para o céu. Muitos apóstolos leigos já estão respondendo a este chamado, bem como várias paróquias, inúmeros diáconos e sacerdotes, religiosas e bispos, que, corajosa e amorosamente, estão trabalhando juntos como uma família para trazerem nossos irmãos e irmãs para casa. Em 2006, no quadragésimo ano da publicação do documento do Concílio Vaticano II, o então Papa Bento XVI lembrou que a Igreja “não é algo opcional, mas a própria vocação do povo de Deus, um dever que lhe corresponde por ordem do próprio Senhor Jesus Cristo”.

Antes de começar a falar da fé, ouça a pessoa com a qual você está prestes a falar. Que lutas ou desafios está tendo? Seu amigo ou amiga acabou de passar por uma perda significativa? Seu esforço junto a ele(a) será em vão se você passar uma hora falando sobre a doutrina mariana, quando o que ele(a) precisa realmente ouvir é o ensinamento restaurador da Igreja no seu sofrimento redentor. Com frequência, recorremos ao suporte intelectual da fé católica quando alguém está lutando diante de um profundo revés emocional, o qual tem de ser resolvido de forma completamente diferente, mas sempre com a verdade da Igreja. Lembre-se de que ninguém se interessa pelo quanto você tem de sabedoria, até que saibam o quanto você tem de interesse por eles(as). Isso vale a pena ser repetido: ninguém se importa pelo quanto você sabe, até que saibam quanto se importa com

Todos somos chamados, cada um no seu caminho, a guiar as almas. Temos que estar abertos ao Espírito Santo e aproveitarmos cada oportunidade como dom de Deus. São Paulo nos diz na 1ª aos Coríntios 9,16: “Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!”. Quando o Espírito Santo lhe dá a oportunidade de falar com alguém sobre a fé, não vire as costas. Quando der seu testemunho, faça-o com humildade e compaixão, não com julgamento, nem condenação.

Todos os dias, o dia todo, Deus está falando para você: “Eu estou aqui e te amo! Volta para mim”. A maioria das pessoas que não ouve o convite de Deus, não O está rejeitando com convicção. Elas estão tão absorvidas pelas distrações do mundo, que, simplesmente, não se conscientizam de que Deus existe. No entanto, o dom de Sua Misericórdia está sempre disponível, esperando pelo dia em que tais ovelhas perdidas perceberão quanto necessitam Dele.

Se os membros de sua família estão entre as ovelhas que se afastaram da Igreja, nunca pare de rezar por eles. Um dos momentos mais eficazes de rezar pelo retorno deles é durante a consagração, na Missa, quando o sacerdote eleva o cálice com o preciosíssimo Sangue de Jesus. Lembre-se que, por amor e compaixão para com a humanidade pecadora, Cristo derramou Seu sangue para a salvação do mundo; e Ele o fez a fim de não perder uma única alma. Assim, na elevação do cálice, cite os nomes dos seus entes queridos, colocando-os diante do Preciosíssimo Sangue de Jesus e peça a Ele para trazê-los de volta para casa.

Talvez o maior desafio espiritual que nossas famílias enfrentam hoje é a batalha contra o secularismo humano, o qual é definido como “uma filosofia humanística considerada como uma religião ateia, oposta à religião tradicional”. Outra fonte o define como “a visão de uma religião global baseada no ateísmo, no naturalismo, na evolução e no relativismo ético”, em que os humanistas seculares são ateus e adotam o “relativismo ético”, isto é, a ideia de que não existe um código moral absoluto, portanto, nós seríamos livres para adaptar nossos padrões éticos de acordo com cada situação.

Mesmo várias pessoas religiosas podem achar difícil resistir ao secularismo humano, pois o conhecem bem. No entanto, você tem que resistir a essa filosofia, pois ela não vem do Evangelho; não é o plano de Deus para a humanidade! Se você está muito ligado na rotina da sua correria diária, se se encontra perdendo a Missa e ignorando suas orações, pare por um momento agora e olhe ao redor, não apenas para o exterior, mas também interiormente.

Existe algum vazio? Tenho certeza que sim; e se assim for, em seguida, vá à Missa, receba com frequência os Sacramentos e não se prive das orações, pois estas são as chaves para você permanecer na paz de Deus, reconhecendo Seu verdadeiro plano para este mundo. Embora seja importante amar os outros para conduzi-los ao céu, é igualmente importante amar-nos a nós mesmos para irmos para o céu, e fazemos isso a fim de descansar na presença do Senhor.


Retirado do livro “Católicos, voltem para casa”, de Tom Peterson