Semeemos a Palavra de Deus em nosso coração

Nosso Senhor Jesus Cristo quer nos formar, nos educar, nos catequizar e, ao mesmo tempo, nos fazer entrar na dinâmica do Reino de Deus. Por isso usa de elementos de comunicação variados, um dos mais importantes são as parábolas d’Ele, por meio das quais Ele compara o Reino de Deus com a nossa vida e com os elementos da própria natureza.

A natureza, hoje, para nós é comparada a um elemento muito concreto: a semente, que é semeada e jogada na terra, depois cresce e se torna uma árvore. Muitas pessoas, quando olham para uma árvore, só se lembram dela pelos frutos que ela dá ou deixa de dar, olham para as folhas que caem. E se esquecem de que aquela árvore foi antes de qualquer coisa uma semente. Talvez uma semente pequena, insignificante, invisível, aos olhos humanos até sem valor.

A semente cresce, brota, vai depois produzir tantos frutos, e no meio daqueles frutos há outras sementes para que a árvore continue se reproduzindo e chegando cada vez mais longe. Assim é o Reino dos Céus! Primeiro porque o Reino de Deus é comparado com uma pequena semente de um grão de mostarda. O grão de mostarda é, na verdade, uma semente tão pequena, tão minúscula, quase invisível aos olhos humanos e se não tomarmos cuidado se perde em nossa mão.

O Reino de Deus é assim também, é como uma semente tão pequena que as pessoas nem percebem, muitas vezes, que ela existe. Quando essa semente é semeada, depois cultivada e cuidada, vai crescer e produzir muitos frutos para mudar, alegrar e transformar o mundo em que vivemos. O Reino de Deus começa em nós assim, como algo pequeno, parecendo até insignificante.

Da mesma forma, nossa fé, por vezes, é tão pequena que parece até que não existe, mas tudo é uma questão de cultivar, tudo é uma questão de cuidar, de dar valor, importância e assim dedicar os devidos cuidados para que essa semente possa crescer.

Não matemos a semente do Reino de Deus que está em nosso coração! Não deixemos essa semente secar por falta de cultivo, por falta de regar, de alimentar, pelo contrário, permitamos que, em nossa vida, em nossas casas e famílias, a semente cresça rigorosa e cuidada. Assim vamos produzir muitos frutos e a nossa vida há de semear muitos frutos daquilo que nós colhemos de uma forma tão pequena e insignificante.

No meio da sociedade, a Palavra de Deus, o Reino de Deus, as coisas de Deus são também insignificantes para muitos, mas quando a sociedade menos percebe essa semente vai crescendo, vai brotando, vai dando frutos que vão contagiando todo o mundo ao lado e quando se percebe que essa semente poderia não ter importância nenhuma ela se torna a maior de todas as árvores que estão naquele lugar.

Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova

As consequências do mau relacionamento dos pais na vida dos filhos

Atitudes são decisões internas que geram comportamentos, ações diante de diferentes circunstâncias. Esses comportamentos são fruto do temperamento, do ambiente que vivem e das escolhas que vão sendo feitas a partir de determinadas realidades.

Muitos problemas de comportamento são gerados no relacionamento com pessoas, tais como colegas, professores e irmãos, mas o de grande impacto é a interação com os pais. Muitos pais, no entanto, não percebem que a forma como se relacionam um com o outro interfere na formação, no comportamento dos filhos. Discussões entre o casal podem marcar uma criança por toda a sua vida, gerando comportamentos conflituosos ou inadequados.

A percepção dos filhos sobre o amor, o matrimônio, o companheirismo, os confrontos e os divórcios, entre outras situações vivenciadas pelos pais, pode ser causa de uma vida tumultuada na vida adulta dos filhos.

As crianças, na primeira infância, ficam vulneráveis e confusas diante de um ambiente conturbado; muitas vezes, assumem a culpa pelas dificuldades do casal. Por não terem ainda muita consciência, acabam escamoteando os sentimentos.

Na idade escolar, podem apresentar problemas de relacionamento consigo e com o outro e de aprendizado na escola; em alguns casos, podem fugir de casa para se livrarem do ambiente conturbado ou por acharem que vão unir os pais.

Na adolescência, o impacto do mau relacionamento dos pais reflete no amadurecimento precoce, na vergonha, no uso de drogas por parte dos filhos e na gravidez precoce.

Muitas vezes, as brigas presenciadas na infância impedem que os filhos na fase adulta queiram se casar, pois o medo da situação conflituosa se repetir paralisa algumas pessoas.

Em todas as idades, quando o relacionamento do casal se deteriora, causando a separação, os filhos podem apresentar hostilidade, insegurança pela perda do amor de quem sai do lar e medo do padrasto tomar o lugar paterno. Em casos de separação, é importante manter a presença física e emocional, pois ausência paterna é entendida como falta de amor, podendo aumentar o sentimento de culpa pela separação dos pais.

Quanto mais cedo os pais têm consciência dessas consequências, melhor, porque permite que eles ensinem aos filhos a trabalharem os sentimentos diante das situações, criarem espaço para que seja compartilhada e entendida a ansiedade que as brigas provocam e tentem reconstruir uma relação saudável na vida conjugal em benefício da vida atual e futura dos filhos.

Em alguns casos, torna-se necessário a contratação de um profissional para juntos entenderem as circunstâncias que acarretaram o problema de comportamento e a forma de relacionamento entre a criança e seus pais, porque uma melhor interação contribui para romper o círculo vicioso de comportamentos negativos.

Ângela Abdo

Coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos

O segredo para ter um casamento feliz

Não é difícil de encontrar casais que relatam suas dificuldades no casamento, ainda que estejam casados há poucos meses. A impressão que a maioria desses casais têm é de que, enquanto estavam namorando, tudo era bem diferente. Eles comentam que, antes de oficializar o casamento, viviam melhor.

Se formos considerar a longevidade da proposta conjugal, certamente alguns poucos anos corresponderiam a um período de lua de mel. É o começo de uma vida nova que se desdobra.

O segredo para ter um casamento feliz é os casais aprenderem a deixar de conjugar os verbos na primeira pessoa – eu vou, eu quero, eu faço… – para conjugá-los na primeira pessoa do plural – nós vamos, nós queremos, nós faremos…

Muitas são as queixas de ambos. Parece que o romantismo vivido por eles no namoro e nas primeiras semanas de casados foi abandonado.

Se ficarem presos às coisas que deixamos para trás ou às situações que têm sido motivos de brigas, em muito pouco tempo os casais começarão a pensar em se separar, antes mesmo de fazerem a experiência da verdadeira vida conjugal, além da cama.

Diante das primeiras crises, eles reclamam que o cônjuge já não se preocupa em ser a mesma pessoa atenciosa com quem, um dia, se casaram. Com isso, muitas farpas são trocadas. Na tentativa de fazer valer sua opinião, o casal se prende ao objetivo de vencer uma batalha, na qual as palavras são as armas.

Obcecados em vencer a briga, eles se esquecem de que o objetivo da vida a dois está em eliminar os motivos de desavenças e não criar barreiras contra alguém que está no mesmo time.

Numa guerra, ainda que o soldado não seja morto, certamente alguns arranhões ele trará consigo. Tal situação não seria diferente para aqueles que travam uma guerra de palavras. Ainda que haja um vencedor, ambos perdem por causa dos resquícios das ofensas lançadas contra o outro.

Poderíamos fazer uma lista com muitas dicas usadas pelas revistas, mas nenhum conselho poderá ser útil se não houver a atitude de resgatar o primeiro objetivo que tiveram ao optar pelo casamento: ser feliz junto com a pessoa por quem se apaixonou. No entanto, nada será diferente se, nos momentos de crise, a pessoa começar a olhar apenas para os sinais que a fazem infeliz no casamento, pois, em pouco tempo, ela cogitará a hipótese de separação.

Em vez disso, será muito mais proveitoso para o casal fazer uma reflexão, em conjunto, sobre a situação, na tentativa de entender aquilo que poderia os tornar mais felizes dentro do novo estado de vida.

Mesmo que as nossas atividades e os nossos trabalhos não permitam que estejamos juntos, podemos fazer outras pequenas coisas que reforçam também os laços da vida de casados.


Blog Canção Nova

13 de Junho – Dia de Santo Antônio, doutor da Igreja

Santo Antônio Neste dia, celebramos a memória do popular santo – doutor da Igreja – que nasceu em Lisboa, em 1195, e morreu nas vizinhanças da cidade de Pádua, na Itália, em 1231, por isso é conhecido como Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua. O nome de batismo dele era Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo.

Ainda jovem pertenceu à Ordem dos Cônegos Regulares, tanto que pôde estudar Filosofia e Teologia, em Coimbra, até ser ordenado sacerdote. Não encontrou dificuldade nos estudos, porque era de inteligência e memória formidáveis, acompanhadas por grande zelo apostólico e santidade. Aconteceu que em Portugal, onde estava, Antônio conheceu a família dos Franciscanos, que não só o encantou pelo testemunho dos mártires em Marrocos, como também o arrastou para a vida itinerante na santa pobreza, uma vez que também queria testemunhar Jesus com todas as forças.

Ao ir para Marrocos, Antônio ficou tão doente que teve de voltar, mas providencialmente foi ao encontro do “Pobre de Assis”, o qual lhe autorizou a ensinar aos frades as ciências que não atrapalhassem os irmãos de viverem o Santo Evangelho. Neste sentido, Santo Antônio não fez muito, pois seu maior destaque foi na vivência e pregação do Evangelho, o que era confirmado por muitos milagres, além de auxiliar no combate à Seita dos Cátaros e Albigenses, os quais isoladamente viviam uma falsa doutrina e pobreza. Santo Antônio serviu sua família franciscana através da ocupação de altos cargos de serviço na Ordem, isto até morrer com 36 anos para esta vida e entrar para a Vida Eterna.


Santo Antônio, rogai por nós!

11º Domingo do Tempo Comum

O texto de hoje traz à tona dois elementos muito importantes para o estudo dos Evangelhos – “o Reino de Deus” e “as parábolas”. E Jesus vai usar das parábolas para nos falar do Reino.

Jesus tinha uma pedagogia muito própria para transmitir ao povo seus ensinamentos. Ao se dirigir a grupos maiores, ele gostava de falar usando comparações, fazendo relações com elementos conhecidos da comunidade: objetos, profissões, plantas.

Este modo de Jesus ensinar, contando pequenas histórias compreensíveis por todos, denomina-se ‘parábolas’. As parábolas ajudam a assimilar o projeto de Deus. Para nós, hoje, mesmo que algumas imagens não sejam fáceis de entender, podem, no entanto, nos ajudar a compreender o que Deus nos propõe para nos comprometermos com seu projeto.

No Evangelho de hoje, o Mestre recorrer à imagem da semente lançada na terra pelo agricultor, a qual, depois de cumprido seu ciclo de germinação e maturação, será por ele colhida. Somos nós esta semente que o Pai lança aqui na Terra, no mundo. Cumprido nosso ciclo de vida, ele virá nos colher. Em seu projeto, Deus propõe que sejamos como a semente de mostarda, que torna-se “a maior das plantas da horta”.

Na leitura do Antigo Testamento, o profeta Ezequiel recorre a uma imagem semelhante a esta, quando Deus diz: “Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou plantá-lo num monte muito alto (…) e ele lançará ramos e dará frutos e tornar-se á um cedro majestoso”.

No contexto de Ezequiel, ele está se referindo ao povo exilado na Babilônia e, com estas palavras inspiradas, quer transmitir esperança àqueles que se encontram longe de sua terra, escravizados, sofredores, sem horizontes de vida. Nesta ambiente, Ezequiel mostra, por imagens, que Deus é fiel e que quer construir, com seu povo, a história da salvação.

Na Carta de Paulo aos Coríntios que hoje ouvimos, o apóstolo começa exatamente sublinhando a confiança que inunda aqueles que creem em Jesus Cristo. Paulo também se refere a exilados, porém não a um povo que está distante de seu país. Ele refere-se a nós todos cristãos que peregrinamos neste mundo, visando ao retorno para junto do Pai, ao final de nossa vida e ao final dos tempos, no reino que não terá fim.


Diocese de Limeira

13 de Junho - 2° Aparição de Nossa Senhora

Neste dia, a branca Senhora disse:

- Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendais a ler. Depois direi o que quero.

Quando a Lúcia pede para os levar a todos para o Céu, a Senhora responde:

- Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a Devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar prometo a Salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono.

- Fico cá sozinha? Perguntei com pena.

- Não filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus.

- Foi no momento que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo desta luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte desta luz que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.


Retirado do Livro Memórias da Ir. Lúcia

No coração de Jesus encontramos cuidado e acolhimento

Celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, esse coração inflamado de amor por cada um de nós. Nós queremos contemplá-Lo, amá-Lo e adorá-Lo; queremos render o nosso coração ao Sacratíssimo Coração de Jesus.

Não é apenas um coração físico, localizado no centro do peito humano, nesse caso, é a sede dos sentimentos, dos afetos e onde estão os impulsos. O coração de Jesus, manso, humilde e pleno do amor divino, nos acolhe e cuida do coração de cada um de nós!

O Evangelho nos mostra hoje que, do lado aberto de Jesus, de Seu coração, enquanto Ele morria, jorrava Sangue e Água. Na noite anterior à Sua morte, na Última Ceia Ele, mesmo deu Seu Corpo e Seu Sangue para ser nosso alimento e para alimentar nossa vida aqui na Terra. Isso nos lembra o pelicano, que dá o próprio sangue para alimentar seus filhotes. Jesus é Aquele que, ao morrer, derrama o Sangue, que jorra do Seu coração, para dar vida a cada um de nós. O Seu lado aberto jorra água, que nos batiza, nos lava, nos purifica, nos renova e faz de nós criaturas novas segundo à imagem e semelhança do nosso Deus!

O coração de Jesus quer alimentar o nosso coração, quer purificá-lo das impurezas que vão se acumulando durante a vida. Essas impurezas tornam, muitas vezes, o nosso coração duro, fechado, rancoroso, cheio de maus sentimentos para com o próximo e para com a vida.

Jesus quer purificar o nosso coração de todo pessimismo, de toda malícia, das fraudes, dos roubos e dos adultérios, porque não é o que entra no homem que o deixa impuro, mas aquilo que sai de seu interior. E se a boca fala do que o coração está cheio (cf. Mt 12, 34), que o nosso coração esteja cheio de Deus, cheio de paz, de amor e de muitas coisas boas para que somente bondade saia de nossa boca e do nosso coração!

Que o coração manso e humilde de Jesus faça o nosso coração semelhante ao d’Ele!

Que Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo

Sacerdote da Comunidade Canção Nova

10º Domingo da Tempo Comum

O Trecho do Evangelho de Marcos, lido hoje, está colocado após a escolha dos Doze (3,13-19) e antes das parábolas sobre o Reino de Deus (4,1-34). Ele revela que a escuta da Palavra é condição essencial para ser discípulos de Jesus e participar de sua comunidade. A multidão sofrida acorre a Jesus e participa de sua comunidade, vinda de várias regiões, com esperança de libertação (3,7-12). O caminho do discipulado leva a compreender “o mistério do Reino de Deus” (4,11), que se revela, aos poucos, em Jesus, o Cristo e Filho de Deus.

Jesus proclamava a Boa-Nova do Reino de Deus nas sinagogas (1,21; 1,39), mas também nas casas (1,29; 3,20), em todo o “espaço”, junto aos pobres, aos excluídos. Havia tanta gente que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer (cf. 6,31). Em Nazaré, onde viviam os parentes de Jesus, familiares e conhecidos, muitas pessoas não o reconheceram como o enviado de Deus. Diversos motivos, como o contato com os enfermos e pecadores, a questão da observância do sábado, levam a pensar que Jesus enlouqueceu.

A libertação integral das pessoas gera conflitos, especialmente com os líderes religiosos que diziam que ele estava possuído por Beelzebu e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios (3,22). Jesus, por meio dos exemplos do reino, da casa dividida contra si mesmo e do arrombamento da casa de um homem forte (3,23-27), mostra que suas ações não podem ser realizadas em parceria com Satanás, “aquele que divide”. Um reino e uma casa divididos não subsistem. Quem se opõe à missão de Jesus, guiada pelo Espírito desde o Batismo (1,9-11), “blasfema contra o Espírito Santo”.

Os que acolhem os ensinamentos de Jesus, a serviço da vida e da dignidade das pessoas, realizam a vontade de Deus. Jesus, percorrendo com olhar os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e minha mãe” (3,34-35).

Sentar-se ao redor de Jesus é a atitude dos discípulos autênticos, que escutam sua Palavra (cf. Lc 10, 38-42) e realizam a vontade de Deus. A comunidade de irmãos e irmãs é formada pelas pessoas que aderem a Jesus e manifestam a presença do Reino de Deus através de palavras e ações.

A leitura do livro do Gênesis pertence a um bloco maior (2,4b-3,24), escrito no tempo do rei Salomão (970-931 a.C.), para mostrar a realidade do ser humano. Adão, “tirado da terra”, e Eva, “mãe dos viventes”, representam o ser humano. A ambição em querer ser igual a Deus afasta do caminho da solidariedade do jardim, plantado ao redor da árvore, onde as relações eram vividas sem violência e dominação. Os caminhos contrários aos ensinamentos do Senhor rompem a harmonia do paraíso, a comunhão fraterna. Deus, porém, não abandona o ser humano, vai ao seu encontro para restaurar sua dignidade.

A serpente, em Canaã e em Israel, era símbolo especialmente de Baal, deus da fertilidade dos animais e plantas. Era usada, na religião oficial para legitimar a concentração do poder nas mãos dos reis, enfraquecendo assim as ações solidárias. O povo é chamado a seguir ao Deus único e seu projeto de vida digna para todos, não a serpente que gera males em todo o planeta. A promessa da vitória sobre a serpente pela descendência de Eva, a mãe dos viventes (3,15), realiza-se plenamente em Jesus, cuja entrega proporciona a vida eterna ao ser vivente.

O Salmo 129(130), expressa o clamor cheio de confiança a Deus, o único que pode salvar. O salmista espera no Senhor e em sua Palavra libertadora, mais que a sentinela pela aurora, após uma noite de vigilância. O motivo da confiança absoluta é que no Senhor encontra-se misericórdia e copiosa redenção.

A leitura da segunda carta aos Coríntios salienta que a audácia apostólica decorre da confiança na graça do Senhor. Paulo, em meio às tribulações, retoma o Salmo 116, 10: “Acreditei, até mesmo quando eu dizia: é demais meu sofrimento”, e testemunha: “Eu tive fé e, por isso, falei” (4,13).

A fé ativa, imbuída da força do Espírito, suscita o testemunho e o anúncio da Boa-Nova de Jesus. A razão da fé está em Deus, que ressuscitou Jesus e que ressuscitará o ser humano com ele, conduzindo-o à comunhão eterna em sua presença. A adesão a Jesus, no caminho do discipulado, faz a comunidade transbordar de ação de graças para a glória de Deus.

O ensinamento do grande apóstolo insiste a “não perder a coragem, a não desanimar” (cf. 4,1.16) no caminho de transformação interior que conduz à vida nova e plena em Deus. A imagem da tenda dos nômades no deserto ensina a “renovar dia a dia nosso interior”.

O mistério da graça de Deus, que atua em nossa fragilidade, e o testemunho vivo de Jesus, nos guiam no caminho dos valores do Reino, que permanecem para sempre. Paulo lembra que o essencial é confiar no Senhor: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente” (12,9).


Diocese de Limeira

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

O Evangelho de Marcos está situado na parte inicial da narrativa da paixão (14,1-31). Após o reconhecimento de Jesus como o Ungido/ Messias pelo gesto da mulher anônima (14,1-11), sua entrega aparece no contexto da Páscoa judaica (Mc 14,12-16) e a última Ceia está ligada à realização plena do banquete messiânico no Reino de Deus (Mc 14,17-31). Enviado para “servir e dar a vida em resgate por muitos” (10,45), Jesus trilha o caminho de fidelidade ao Pai até a entrega total na cruz.

Jesus e os discípulos estão em Jerusalém para a festa da Páscoa, memorial da libertação do Egito que reavivava a esperança da salvação definitiva a realizar-se por meio do Messias. A festa da Páscoa era celebrada durante oito dias. No primeiro dia, imolava-se o cordeiro pascal. A Páscoa que os discípulos celebrarão é a da morte de Jesus, o Messias crucificado. Por isso, os preparativos da ceia pascal sublinham a iniciativa de Jesus. Os discípulos “encontram uma grande sala arrumada com almofadas por Jesus” (Cf. Mc 14,15), que prepara a sua Páscoa. Ele se oferece como o verdadeiro cordeiro pascal, realizando plenamente a esperança profética (Cf. Is 52, 13-53,12).

Jesus durante a ceia pascal, dá um sentido novo aos gestos rituais que eram realizados por ocasião das refeições judaicas solenes. Ao tomar o pão, Jesus pronunciou a benção, partiu-o e entregou  a eles, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo “  (Mc 14,22). Depois tomou o cálice, deu graças, entregou a eles e todos beberam. Jesus desse-lhes: “Este é o meu sangue da nova aliança, que é derramado por muitos” (14,23-24). Os discípulos, ao compartilhar do pão e do vinho associados à morte de Jesus, alimentam-se de seu corpo e sangue oferecidos para a vida nova e definitiva de todos.

A expressão “sangue da aliança” remete a Êxodo 24,8, à aliança no Sinai selada com o sangue de animais. O profeta Jeremias anunciou a nova aliança (Cf. Jr 31,31-34), que foi selada definitivamente em Cristo “pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, perfeita realizada uma vez por todas” (Cf. Hb 10,10). O “sangue derramado em favor de muitos” alude, de modo especial a Isaías 53,12 e indica que Jesus é o Servo sofredor por excelência, que entrega a vida pela salvação da humanidade. A Eucaristia torna-se o memorial da nova aliança, plenificada na morte redentora de Cristo.

Jesus, por meio da paixão, morte e ressurreição, “beberá o vinho novo no Reino de Deus” (Mc 14,25). Sua última ceia realizada a esperança messiânica, a festa do Reino anunciada pelo profeta (Cf. Is 25,6) e manifestada na abundancia do alimento (6,30-44; 8,1-10). Na ceia de entrega da vida, que Jesus celebra com seus discípulos, culminam as refeições celebradas com os publicanos e pecadores (2,16), com os excluídos. Manifestam-se a realidade do banquete escatológico, a esperança na realização plena do Reino. Antes de ir para o monte das Oliveira, Jesus canta o hino, isto é, os salmos de louvor (113-118) (Os Salmos 113-118 formam a coleção do Halle ou “Aleluia“. Eles eram cantados nas grandes festas de romaria e na ceia pascal (Cf. Mc 14,26)).

A Leitura do livro do Êxodo descreve a conclusão da aliança no Sinai entre Deus e o povo. Moisés, depois de fazer a experiência do encontro com o Senhor (19,3;24,1-2), reúne o povo e comunica “todas as palavras e todos os decretos do Senhor” (24,3a). Trata-se especialmente dos dez mandamentos (20,1-21) e do código da aliança (20,22-23,33). O povo compromete-se a seguir o caminho da aliança, que proporciona a comunhão com Deus e entre si: “faremos tudo o que o Senhor nos disse!” (24,3b).

Moisés construir um altar e criou um espaço digno para a comunidade celebrar e oferecer um sacrifício de comunhão (24,4-5). As doze colunas sagradas sublinham o sentido da aliança para todo o Israel. Após a leitura solene do “livro da aliança”, aspergiu o altar e o povo com o sangue do sacrifício, o “sangue da aliança”. Assim, os dois contraentes da aliança: Deus, representado no altar (24,6) e o povo (24,8) que renova o compromisso de obediência à Palavra (24,7), estão unidos na comunhão de vida.

O Salmo 115 (116B) é uma oração de louvor e ação de graças ao Senhor, pois foram quebradas as cadeias da opressão. O salmista ergue o cálice da salvação e invoca o nome do Senhor, como sinal de compromisso.

A leitura da Carta aos Hebreus acentua que Cristo ressuscitado é o novo sumo sacerdote, que entrou no santuário através da tenda maior e mais perfeita. Com a única oferenda de si meso, levou à perfeição para sempre os que Ele santifica (Cf. 10,14), superando os sacrifícios antigos. O sumo sacerdote entrava no santuário, nos Santos dos Santos, para oferecer o sacrifício anual de expiação (Cf. Lv 16). Cristo ofereceu a vida por nossa libertação definitiva. Seu caminho, plenificado no mistério pascal, conduz à comunhão plena com Deus.

“Cristo, em virtude do Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha. Ele purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (9,14). Como a conclusão da aliança realizava-se mediante a efusão de sangue (Cf. Ex 24,6-8), a nova aliança revela-se plenamente na morte redentora de Cristo em favor de toda a humanidade. Assim, Cristo é ressaltado como “Mediador da nova aliança” (9,15).


Diocese de Limeira

Consagração ao Sagrado Coração de Jesus

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Entrego-me e consagro ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo minha pessoa e vida, minhas ações, dores e sofrimentos, para que eu utilize meu corpo somente para honrar, amar e glorificar o Sagrado Coração.

Esse é meu propósito definitivo e único: ser todo de Deus e fazer tudo por amor a Ele; ao mesmo tempo, renunciar, com todo meu coração, qualquer coisa que não lhe compraz; além de tomar-te, Ó Sagrado Coração, para que sejas ele o único objeto de meu amor, o guardião de minha vida, meu seguro de salvação, o remédio para minhas fraquezas e inconstâncias, a solução aos erros de minha vida e meu refúgio seguro à hora da morte.

Seja, ó Coração de Bondade, meu intercessor ante Deus Pai e livra-me de Sua sabia ira. Ó Coração de Amor, ponho toda minha confiança em ti, temo minhas fraquezas e falhas, mas tenho esperança em tua divindade e bondade.

Tira de mim tudo o que está mal e tudo o que não faça Tua santa vontade. Permite a Teu amor puro a que se imprima no mais profundo de meu coração, para que eu não me esqueça nem me separe de ti.

Que eu obtenha de tua amada bondade a graça de Ter meu nome escrito em Teu coração, para depositar em Ti toda minha felicidade e glória, viver e morrer em Tua bondade. Amém.


Santa Margarida Maria Alacoque

Domingo de Pentecostes

O texto dos Atos dos Apóstolos é construído por Lucas com uma finalidade teologia bastante especifica: estabelecendo um paralelo com o Pentecostes do povo de Israel, mostrar que a ação de Deus continua viva agora nos cristãos. A festa judaica de Pentecostes, celebrava, cinqüenta dias depois da páscoa, a recepção da Torá no Monte Sinai (Cf. Ex 19,16-20 e Dt 5, 4-5).

Percebemos também um contraponto ao relato de Babel (Cf. Gn 11, 1-11): lá, a multiplicidade de línguas gerou confusão: aqui, pela ação do Espírito de Deus, gerou unidade. A Igreja nasce com uma vocação universal, evidenciada pelos numerosos povos ali reunidos.

Elementos como o barulho forte, o vento e as línguas de fogo são teofânicos: expressam a presença de Deus. É essencial perceber que a comunidade primitiva foi invadida, tomada pelo Espírito, e que toda a sua atividade posterior se dá pelo influxo deste mesmo Espírito.

O Salmo 103 pede que o Espírito do Senhor seja enviado também a nós, para que a face da terra seja renovada. Canta a beleza da criação que, sem respeito da vida, dado por Deus, volta ao nada de onde saiu.

A unidade de que fala a primeira leitura não anula a diversidade presente na Igreja. Isso é garantido pelo texto de Paulo aos Coríntios. É o Espírito Santo que nos permite crer. O essencial é a profissão de fé em Cristo Ressuscitado: Ele é o Senhor.

A comunidade de Corinto passava por algumas dificuldades por causa do sincretismo religioso. Diante disso, como discernir o que é, verdadeiramente, obra de Deus do que é puramente humano? Paulo coloca três critérios importantes: 1. Todos os carismas devem conduzir à mesma profissão de fé no senhorio de Cristo; 2. Todos os carismas devem ajudar a concretizar o plano salvífico de Deus; 3. Os carismas servem ao bem comum e à unidade do Corpo de Cristo, nunca criam divisão.

As diferenças étnicas (judeus e gregos) e sociais (escravos ou livres) não podem perdurar na comunidade cristã. A adversidade de carismas, assim, não destrói, mas favorecem a unidade na fé.

O Evangelho se dá no lugar da reunião da comunidade, que, ao que tudo indica, já tinha estabelecido o costume de se reunir no primeiro dia da semana. Chama atenção que estavam com medo, o que revela a situação da comunidade de João em relação à Sinagoga.

Jesus entra, mesmo com as portas fechadas, põe-se no meio deles, os saúda dando a paz. Há controvérsias exegéticas sobre a tradução das palavras de Jesus: “’Paz a vós!’ Por essas palavras, que são as primeiras que o Vivente dirige aos seus discípulos reunidos, Jesus não formula uma saudação ordinária, o shalom costumeiro dos judeus. Também não é um desejo, como erroneamente se traduz: ‘A paz esteja convosco’. Trata-se do dom efetivo da paz, em conformidade com o que Jesus disse no seu Discurso de despedida: ‘Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz; não vo-la dou como o mundo’ (14, 27)” (LÉON DUFOUR, Xavier. Leitura do Evangelho Segundo João – IV. São Paulo: Loyola, p. 166).

Depois se apresenta, mostrando a identidade entre o Crucificado e o Ressuscitado. O resultado dessa visita é a alegria que brota no coração dos discípulos, que vêem o Senhor.

Há uma nova saudação de paz, sinal do início de um novo tempo. Jesus, o Enviado por excelência, envia agora os seus discípulos. “A missão provém de Deus, que quer dar a vida ao mundo. O envio dos discípulos implica tudo o que visava o ministério confiado a Jesus: glorificar o Pai, fazendo conhecer seu Nome e manifestando seu amor (Cf. 17, 6.26)” (Idem p. 169).

Temos, agora, um gesto: soprou sobre eles. Esse sopro é indicado com o mesmo verbo que consta em Gênesis 2,7. Faz referência clara ao ato criador e, agora, inaugura uma nova criação. “Trata-se agora da nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o homem (cf. 3, 3-8), capacitando-o para partilhar a comunhão divina. O Filho que ‘tem a vida em si mesmo’ dispõe dela a favor dos seus (cf. 5, 26.21): seu sopro é o da vida eterna. Mostrando a chaga de seu lado, não evocou Jesus o rio de água viva que daí saiu, símbolo do Espírito dado aos que crêem (19,34; cf 7,39)” Ibidem, p.169).

Prestemos atenção ao fato de que João situa esse relato no dia da Páscoa. Assim não é Pentecostes, porque não está a cinqüenta dias da Páscoa, como em Lucas. Contudo, é, sim, o dia do envio do Espírito Santo, mostrando o laço imediato do dom do Espírito com o Cristo Ressuscitado.

Sobre o perdão dos pecados, confiado à comunidade, vemos que “perdoar/manter” significa aqui a totalidade do poder misericordioso transmitido pelo Ressuscitado aos discípulos. (…) De acordo com os profetas, a efusão escatológica do Espírito purificará Israel de suas manchas e de seus ídolos.

Na pregação cristã primitiva, remissão dos pecados e dom do Espírito vão juntos. O efeito primeiro da criação nova, que Jesus significou por seu sopro, é o renascimento do ser (cf. 3,3) e, portanto, o perdão.

Não se deve esquecer de valorizar a Sequência de Pentecostes, hino ao Espírito Santo, louvando-o e suplicando sua vinda.


Diocese de Limeira